sexta-feira, 5 de março de 2010

viciados em drama.

“Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade.” Clarice Lispector
Esses dias fui tomado de uma reflexão, e cheguei a conclusão de que gosto de histórias com final triste. Sabe aqueles dramalhões que no final ninguém fica com ninguém, tudo dá errado, e por aí vai? Depois de chegarmos à conclusão de que Felizes Para Sempre não existe, achamos que essas histórias opostas ao happy ending é que são veriditicas. No fundo, felizes para sempre não existe, mas que infelizes para sempre também não. A felicidade é uma questão de instantes. Hora sim, hora não.

Porém, quantas vezes estamos a um passo de nos proporcionarmos um momento de alegria, e recuamos. Pode ser que nem nos damos conta desse sabotamento, mas ele acontece. Seria um instinto masoquista? Para que ser feliz, se eu posso sofrer? Herança do cristianismo que nos diz que sofrendo nessa vida, teremos o paraíso? Não sei, mas sem se dar conta, a gente vai lá. Melhor a gente não vai lá, porque chegar lá é sinônimo de ser feliz.

Recordo de uma cena de Desperate Housewives, em que Susan Mayer percorre uma trilha à procura de Mike Delfino. A mulher que a acompanhava disse a ela uma singela frase: “Você não saber ser feliz. Você é uma viciada em drama. Quando não há drama, você o cria. [...] Porque você não sabe como somente ser feliz.”

E porque somente ser feliz? É tão mais cômodo ser infeliz, ficar sofrendo e se remoendo. Choveriam exemplos de pessoas que se sabotam, e adiam momentos que tragam satisfação. É aquela menina sonhadora com um amor eterno e verdadeiro, mas que decide sair com um homem que logo de cara fala que é galinha. É aquele pai de família que pretende passar mais momentos com a família, o que lhe traz alegria, mas que vive pegando mais e mais trabalho para fazer. É aquele bônus que veio no fim do mês, e poderia dar mais conforto para a casa, mas vai direto para a poupança, como se nunca tivesse existido.

Às vezes, nos sabotamos sem se darmos conta. Pensamos de um jeito, agimos da maneira oposta. Talvez essa seja a forma de continuar na batalha. Se a batalha chegar ao fim, a guerra termina, saímos vitoriosos e agraciados com todos méritos. Talvez ficar sofrendo seja uma forma que encontramos de nos manter jogando. A questão é que a gente não é feliz, mas sim está feliz. Ou seja, por mais que adiamos um momento feliz agora, não seremos felizes para todo e sempre.
E se, de repente, a gente não sentisse a dor que a gente finge e sente? (Chico Buarque)
Como ser SÓ feliz? Sem criar dramas? Às vezes, a dor é tão prazerosa. E tudo o que dá prazer pode ser viciante, e aí começam os problemas. Ninguém nasceu pra ser mártir, muito menos para sofrer, ainda que existam alguns ensinamentos totalmente necessários de ser aprendidos e o único sentimento capaz de ensinar é a dor. Porém, da mesma maneira que felizes para sempre é uma utopia, sofrer sempre também é um martírio. Permitir-se! Dar-se o direito! De só ser feliz, e agora!

3 comentários:

  1. "No fundo, felizes para sempre não existe, mas que infelizes para sempre também não."

    Superconcordo com isso.

    Acho que o drama também vem do medo de quando o momento se for. A gente sabe que não vai ser feliz pra sempre, então a gente tem medo de subir pra não cair tudo de novo.

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  2. O drama nos dá o prazer de sermos personagens. E, convenhamos, quem não é hedonista a esse ponto?

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  3. Ninguém consegue ser 100% feliz, pois mesmo em momentos de extrema felicidade, nos recordamos de nossas questões, de nossos problemas e de nossos dramas. O ser humano é um Milkshake de emoções/sentimentos. Não dá para ser vazio em tempo integral; e não dá para encher, encher, encher e não transbordar.

    Abraços :)

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