terça-feira, 31 de dezembro de 2013

É possível ser feliz sozinho? - Parte I

Redação escrita nos idos tempos de vestibulando, datada de 23 de abril de 2007, que tentava responder à pergunta:É possível ser feliz sozinho?

Embora sejamos educados desde a infância que precisamos encontrar uma pessoa que nos complete para sermos feliz, é possível ser feliz sozinho. Podemos comparar o ser humano a uma árvore, em que a vida amorosa é uma das raízes que a sustenta.

Juntamente com a vida amorosa, há outras raízes que sustentam a vida de um ser humano: trabalho, religião, família e amigos. Cada uma dessas raízes se complementa e propicia uma vida plena e feliz. O que acontece é que muitas pessoas dedicam-se apenas a uma dessas raízes, e, quando ocorre uma decepção por parte dela a vida dessa pessoa vai pelos ares. Se as demais raízes estão bem no momento em que uma sofrer uma crise, as outras estão firmes e fortes, compensando uma possível decepção por parte de uma raiz. Viver sozinho é possível porque a felicidade também é influenciada por outros fatores. Ainda com o exemplo da árvore, se colocarmos todo o peso dela sob uma única raiz e após isso cortamos esta, a arvore cairá. Porém se distribuirmos o peso entre todas as raízes, ao cortamos uma, as outras estarão compensando o corte. No ser humano, uma possível frustração.

Portanto, é possível ser feliz sozinho pois encontrar alguém não é sinônimo de felicidade. A felicidade é a soma de diversos fatores, dentre os quais a vida amorosa é somente um. 

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Você quer escutar sobre as diferentes perdas auditivas?

Desde 2001, o dia 26 de setembro foi instituído como o Dia Nacional do Deficiente Auditivo e do Surdo. Eu, que possuo uma perda auditiva, fiquei sabendo da existência desse dia neste ano, doze anos após a promulgação da lei. Porém, para além de um dia para o deficiente auditivo é preciso pensar em como são seus dias.

Quando criança o volume alto da televisão ecoou em meus pais, dizendo que algo estava diferente. Percorrendo por médicos e fonoaudiólogos, o diagnóstico de uma perda auditiva. Depois do choque da notícia, a possibilidade de uso de uma prótese auditiva que permitiria ser uma criança “normal” e ouvir como todos os outros. Porém, não seria assim. Primeiro porque ninguém escuta da mesma maneira por mais que o som seja o mesmo. Segundo, os aparelhos auditivos implicariam uma série de cuidados. Um deles diz respeito a água, já que se ele molhasse poderia deixar de funcionar. As brincadeiras infantis de encher um balão com água e jogar nos amigos colocavam-me duas opções: tirar o aparelho e ter uma certa dificuldade para ouvir meus amigos ou deixar de brincar com a água. Dia chuvoso? Cuidado redobrado! Banho? Sempre lembrar de tirar o aparelho antes de ir para o chuveiro, e ouvir o som da água encontrando o chão em uma intensidade menor... O barulho do mar? Para escutá-lo, com aparelho. Entrar na água, tirar o aparelho. Para dormir, outro drama. Tiro meus aparelhos para descansar. Descansar? Ok, e se alguém me chamar no meio da noite e eu não puder ajudar por não ter ouvido?

Sempre andar com pilhas no bolso, outro hábito necessário. Até é possível prever quando a pilha acaba, mas como qualquer ser humano, esquecemos, nos enganamos. Estar em uma festa ou evento social e a pilha acabar, e você não ter nenhuma para trocar? Só invocando a presença das divindades! Se perder a possibilidade de acompanhar as conversas que ocorrem durante já é ruim, deixar de conhecer pessoas interessantes com medo de não escutar o que elas falarão e não querer fazer a pessoa repetir a todo momento o que ela acabou de dizer é péssimo. E existe coisa melhor que uma cantada sussurrada ao pé do ouvido? Chato é quando você não escuta, e a coisa perde a espontaneidade ao pedir que a pessoa repita. Quem convive comigo, acaba tendo que se habituar aos constantes "quê?".

Se falar ao telefone é um drama para muitos, não poder fazer leitura labial só o aumenta. Na verdade, irritante é ser chamado de senhora por atendentes de telemarketing por conta da voz anasalada, já que o processo fala/escuta estão intrinsecamente associados. E isso não separa do contexto social e cultural que estamos inseridos! Dá vontade de gritar com a pessoa do outro lado da linha dizendo que com todo respeito, senhora é a mãe dele! Do mesmo modo, certas brincadeiras que acontecem desde a infância entristecem. Se alguém não ouve alguma coisa, “empresta teus aparelhos para o fulano”. Uma fala situada entre a linha tênue da brincadeira que proporciona leveza ao fato de não ouvir “como todo mundo”, ao mesmo tempo em que se reforça esse lugar...

Se relato esses pequenos eventos cotidianos, não é para me queixar de minha condição, mas sim de como ela marca e produz um modo de viver que não é só meu, mas de todas as pessoas que possuem uma perda auditiva e precisam fazer uso de próteses. E na hora de procurar emprego, a dúvida sempre emerge: sou deficiente ou não? Com a prótese, consigo levar uma vida “normal”. Sem a prótese, as palavras começam a ser engolidas, “falando para dentro”, a vontade de interagir com as pessoas diminui... Embora haja uma política pública de inclusão que força a efetivação da inclusão, como ela é realizada no cotidiano escapa aos diferentes governos. Se o Estado e a sociedade civil precisaram pensar na inclusão, agora eles precisam pensar as diferenças. Fugindo da busca de um normal ideal, no encontro com a realidade, vemos as diferenças. Seja nos graus de perda auditiva que variam de 0 a 100%, seja nos modos de como cada um de nós escuta o que chega aos nossos ouvidos. Entre 0 e 100%, existem infinitas possibilidades numéricas, assim como são infinitas as possibilidades de existência.

Todos somos deficientes em alguma medida. Às vezes, ela está inscrita em nosso corpo. Se não possuímos alguma deficiência, isso é motivo para se (pré)ocupar. Como diria a sabedoria popular: “O pior cego é aquele que não quer ver”. Se por vezes olha-se para alguém com uma perda auditiva como um surdo, é preciso compreender que existem diferentes graus de perda auditiva desde a surdez até uma perda auditiva leve. E isso virará uma norma em nossa sociedade contemporânea, que tem abusado dos fones de ouvido, ocasionando perdas auditivas nas mais diferentes faixas etárias.

Se temos avançado nas políticas de inclusão às diferentes necessidades especiais, precisamos pensar nas diferenças existentes nas necessidades especiais que cada um de nós precisa. É recorrente a pergunta se sei falar libras por possuir uma perda auditiva, minha resposta é sempre não, porque sou ouvinte. Porém, talvez eu precise aprender a me comunicar nessa linguagem, como tenho aprendido a língua inglesa, pois posso perder a oportunidade de conhecer pessoas bem legais e interessantes que somente se expressam por essa via.

Possuir uma perda auditiva e fazer uso de prótese não é ruim, é diferente. Uma vez após comer um biscoito da sorte chinês, recebi a seguinte frase: “Os olhos acreditam em si próprios, os ouvidos acreditam em outros”. Ser humano é estar em relação ao outro, e quando esse outro nos coloca em alguns lugares podemos ter os limites de nossa existência bem restritos. Se a tecnologia tem avançado e aprimorado cada vez mais os aparelhos auditivos, o acesso a essa tecnologia também deve ser efetivar desde as diferentes políticas públicas. Do mesmo modo, em nosso cotidiano ao encontrarmos alguém com uma necessidade especial, seja ela auditiva, visual, física, é preciso perguntar à pessoa como ela quer ser tratada. Afinal, é somente no encontro com o deficiente que podemos transpor nossas deficiências, pensando e sendo diferente juntamente com ele.

Para mais textos sobre a temática da Deficiência Auditiva, a Paula Pfeifer tem um blog excelente. É o Crônicas da Surdez, confiram clicando aqui.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Terra, águas, e o fogo.

São Luís, Julho de 2012. No táxi que levaria ao aeroporto, um diálogo com o taxista que não terminou. O assunto? O mesmo de sempre. Turistas? De onde? Gostaram daqui? Seguido de dicas sobre como a cidade poderia ser melhor aproveitada, seja por quem a habita, seja pelos turistas que a ela se dirigem. Porém, foram outras palavras proferidas por aquele senhor que transpassaram um peito que já aberto se encontrava. Delas, não lembro com exatidão. Faziam referencia a filha do taxista que decidiu vir para o Rio Grande do Sul morar, estudar, amar, desejar... "Fazer o que se ela quis assim, né?" - foi como aquele pai marcou essas linhas que diferentes vidas tratam de escrever.

Da dor de uma partida de um pai ao Rio Grande do Sul, próximo da filha, uma pergunta invade o passageiro: o que faz uma pessoa, como a filha, sair do conforto de um lar e ir para longe dos seus? Onde ela encontrará a segurança que uma casa oferece? Cortar raízes para poder locomover-se, ao mesmo tempo em que as raízes fizeram (e fazem) uma árvore se sustentar. Romper com o fixado requer brigas para poder seguir em frente? "Minha mãe me disse que tinha uma alma de camaleão, nada de bússola moral apontando para o norte. Nada de personalidade fixa. Apenas uma determinação interna que era tão grande e oscilante quanto o oceano."¹

E imagens se apresentam a nós: o jovem com sua obsessão por liberdade e o velho com as memórias que o sustentam. Na flexibilidade da dança das águas, ancorar em algum ponto ou ir para a terra em busca de tranquilidade? Ou a saída para situa-se nas estrelas, no céu? Procurar o que e quem se quer é o que faz com que nos locomovemos? E o que faz uma pessoa não querer ancorar-se em algum lugar? Ou melhor, o que faz uma pessoa ancorar-se em um lugar? Uma oportunidade? Um emprego? Talvez a resposta seja aquilo que sempre nos mantem em movimento, o desejo. Desejo de amar e ser amado? E quando o desejo requer passagens, demanda viagens, partidas e chegadas, por não estar perto? Ancorar-se é uma prova de disponibilidade para amar?

Entre vivido e o vivo, não importa aonde nos direcionarmos levaremos conosco nossas bagagens. De sujar a lavar, algumas peças vão ficando velhas. De algumas, precisamos nos desfazer. Uma bagagem não comporta uma vida, e desfazer-se de algumas coisas é necessário, mesmo que fiquemos sempre em um mesmo lugar.

E se não se trata de terra ou de água, mas do fogo? Do fogo que levamos a cada experiência. Do fogo que cada experiência pode nos trazer.

1.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

sobre como conduzir sua vida utilizando um código moral, a bíblia.

Consultório bíblico

extraído de "Ostra Feliz não Faz Pérola", de Rubem Alves, p. 214.

Laura Schlessinger é uma conhecida locutora de rádio nos Estados Unidos. Ela tem um desses programas interativos que dá respostas e conselhos aos ouvintes que a chamam ao telefone. Recentemente, perguntada sobre a homossexualidade, a locutora disse que se trata de uma abominação, pois assim a Bíblia o afirma no livro de Levítico 18:22. Um ouvinte escreveu-lhe então uma carta que vou transcrever: “Querida Dra. Laura: Muito obrigado por se esforçar tanto para educar as pessoas segundo a Lei de Deus. Eu mesmo tenho aprendido muito no seu programa de rádio e desejo compartilhar meus conhecimentos com o maior número de pessoas possível. Por exemplo, quando alguém se põe a defender o estilo homossexual de vida, eu me limito a lembrar-lhe que o livro de Levítico, no capítulo 18, versículo 22, estabelece claramente que a homossexualidade é uma abominação. E ponto final... Mas, de qualquer forma necessito de alguns conselhos adicionais de sua parte a respeito de outras leis bíblicas concretamente e sobre a forma de cumpri-las:

Gostaria de vender minha filha como serva, tal como o indica o livro de Êxodo, 21:7. Nos tempos em que vivemos, na sua opinião, qual seria o preço adequado?

O livro de Levítico 25:44, estabelece que posso possuir escravos tanto homens quanto mulheres, desde que sejam adquiridos de países vizinhos. Um amigo meu afirma que isso só se aplica aos mexicanos, mas não aos canadenses. Será que a senhora poderia esclarecer esse ponto? Por que não posso possuir canadenses?

Sei que não estou autorizado a ter qualquer contato com mulher alguma no seu período de impureza menstrual (Levítico 18:19, 20:18, etc.). O problema que se me coloca é o seguinte: como posso saber se as mulheres estão menstruadas ou não?

Tenho tentado perguntar-lhes, mas muitas mulheres são tímidas e outras se sentem ofendidas. Tenho um vizinho que insiste em trabalhar no sábado. O livro de Êxodo 35:2 claramente estabelece que quem trabalha nos sábados deve receber a pena de morte. Isso quer dizer que eu, pessoalmente, sou obrigado a matá-lo? Será que a senhora poderia, de alguma maneira, aliviar-me dessa obrigação aborrecida?

No livro de Levítico, 21:18-21 está estabelecido que uma pessoa não pode se aproximar do altar de Deus se tiver algum defeito na vista. Preciso confessar que eu preciso de óculos para ver. Minha acuidade visual tem de ser 100% pra que eu me aproxime do altar de Deus? Será que se pode abrandar um pouco essa exigência?

A maioria dos meus amigos homens tem o cabelo bem cortado, muito embora isto esteja claramente proibido em Levítico 19:27. Como é que eles devem morrer?

Eu sei, graças a Levítico 11:6-8, que quem tocar a pele de um porco morto fica impuro. Acontece que adoro jogar futebol americano, cujas bolas são feitas de pele de porco. Será que será me permitido continuar a jogar futebol americano se usar luvas?

Meu tio tem uma granja. Deixa de cumprir o que diz Levítico 19:19, pois planta dois tipo diferentes de sementes no mesmo campo, e também deixar de cumprir a sua mulher, que usa roupas de dois tecidos diferentes, a saber, algodão e poliéster. Além disso, ele passa o dia proferindo blasfêmias e maldizendo. Será que é necessário levar a cabo o complicado procedimento de reunir todas as pessoas da vila para apedrejá-los? Não poderíamos adotar um procedimento mais simples, qual seja, o de queimá-los numa reunião privada, como se faz com um homem que dorme com a sua sogra, ou uma mulher que dorme com o seu sogro (Levítico 20:14). Sei que a senhora estudou esses assuntos com grande profundidade de forma que confio plenamente na sua ajuda. Obrigado de novo por recordar-nos que a Palavra de Deus é eterna e imutável.”

vida de paz.

''Quero uma vida de paz. Sem euforia nem tristeza. Ali, na linha do meio. Os momentos de euforia serviram para saber que são uma delícia, mas que geram tristeza depois. E, se você quiser essa euforia de novo, ela não vai existir constantemente. Então, você vai viver frustrada por não ter. Para ser feliz, não precisa inventar. Basta ser o mais honesta possível com as pessoas e com você mesma."

Deborah Secco em entrevista para a Quem, em 10/07/2008.