quarta-feira, 24 de março de 2010

sobre a impossibilidade de controlar a vida.

Um fato que a gente aprende com a vida é a impossibilidade de controlá-la. Quando algo não sai conforme o esperado, escolha um dos três: tristeza, raiva e/ou angústia. Quando somos agraciados com algo inesperado, as opções são: felicidade, euforia e/ou gratidão. Diante do fato, faça a escolha (ou espere que ela a escolha) e sinta-a na própria pele.

E a gente sofre...

Um possível desfecho é seguir a lição de alguém que provavelmente sofre desse mal, Bree Van de Kamp: tomar um chá.

Camomila, por gentileza!























sexta-feira, 19 de março de 2010

revisitando-me.

Esses dias fui procurar alguns escritos antigos, e me deparei com esse. Escrito nos idos 2006. Achei no mínimo engraçado.

Sara era uma garota de 16 anos que como toda brasileira não tinha nada para fazer no domingo. Decidiu ir ao clube. Foi até o guarda-roupas, e pegou o último biquini que havia comprado. Logo depois, pegou um dinheiro e partiu em direção ao clube.
Chegando lá viu que tinham instalado uma rampa para as pessoas escorregarem e depois caírem na água. Procurou um lugar para deixar suas coisas e foi para a água. Foi uma vez na dita rampa e gostou. Não deu outra: continuou a brincar na rampa sem parar.
Depois que ficou enjoada de subir as escadas e escorregar decidiu ir tomar um pouco de sol, pois, como qualquer mulher pensa, aquela marquinha de biquini daria aquela inveja nas amigas.
Passou o bronzeador, deitou-se no sol e lá ficou torrando. Às vezes, ela se virava para bronzear ambos os lados do corpo. Numa dessas trocas de lado chegou um rapaz de 20 e poucos anos. Sara ficou tão encantada com o rosto, com o jeito de falar, com a boca, com a barba por fazer do rapaz que nem prestou atenção no que ele dizia. Enquanto ele falava, ela sentia que tinha conhecido sua alma gêmea. O rapaz com o corpo perto do seu deu-lhe uma sensação de paz enorme. O rapaz se retirou e Sara acordou do encanto. Conhecera sua alma gêmea e foi tão rápido que nem ao menos tinha prestado atenção no que ele dissera, ela tinha a certeza de que ele fizera um convite mas que tipo de convite?Sara pegou suas coisas e saiu decidida a procurar pelo rapaz!

Uma história tão bobinha, mas tão leve. Que deu saudade. Daquele bobinho que nada sabia dessa coisa louca que a gente nomeia de vida.

domingo, 14 de março de 2010

Aos apaixonados - Rubem Alves

Quero compartilhar essa excelente crônica do Rubem Alves. Para quem tem medo de relacionamentos, vale a leitura. Para quem não tem, também.

Aos apaixonados - Rubem Alves

Dedico esta crônica aos apaixonados, mesmo sabendo que servirá para nada. É inútil falar aos apaixonados. Os apaixonados só ouvem poemas e canções. A paixão, experiência insuperável de prazer e alegria, pelo fato mesmo de ser uma experiência insuperável de prazer e alegria, coloca o apaixonado fora dos limites da razão. Todo apaixonado é tolo. Pode ser que ele escute a fala da razão. Escuta mas não acredita. Diz: "O meu caso é diferente!" Tolo mesmo é quem tenta argumentar com os apaixonados.

Começo minha inútil meditação com um verso terrível de T. S. Eliot. Ele está rezando. Ele sabe que somente Deus tem poder para lidar com a loucura da paixão. Ele reza assim: "...e livra-me da dor da paixão não satisfeita, e da dor muito maior da paixão satisfeita".

Todo mundo sabe que a paixão não satisfeita dói. Mas poucos sabem que a paixão só existe se não for satisfeita. A paixão é um desejo de posse que, para existir, não pode se realizar. Como a fome: depois do almoço a fome acaba...

Paixão é fome. Ela só floresce na ausência do objeto amado. Mais precisamente, ela vive da ausência do objeto amado. Não se trata de ausência física, o objeto amado distante, longe. A dor da ausência física tem o nome de saudade. Saudade tem cura. A saudade é curada quando o objeto volta. A dor da paixão é diferente. Não tem cura. A saudade do objeto amado, mesmo quando ele está presente, é o perfume característico da paixão. Cassiano Ricardo sabia disso e escreveu:

"Por que tenho saudade
de você, no retrato, ainda que o mais recente?
E por que um simples retrato,
mais que você, me comove, se você mesma está presente?"

Que coisa mais esquisita! Como pode ser isso? Como pode se sentir saudade de algo que está presente? A resposta é simples: a gente sente saudade de uma pessoa presente quando ela está se despedindo. Cecília Meireles, desenhando sua avó morta, a quem ela muito amava, disse: "Tu eras uma ausência que se demorava; uma despedida pronta a cumprir-se." Dirão: "É natural. A avó já era velhinha..." É verdade. Mas o que caracteriza o olhar apaixonado é que ele percebe, no rosto da pessoa amada, essa ausência que se anuncia e essa despedida pronta a cumprir-se. O apaixonado pensa que sua paixão tem a ver com o objeto. Ele não sabe que foi o seu olhar que o tornou encantado. Os poetas são pessoas apaixonadas pela vida. E a sua paixão faz com que ela, a vida, apareça sempre banhada por uma luz crepuscular. Rilke perguntava, sem esperanças de resposta: "Quem foi que assim nos fascinou para que tivéssemos um ar de despedida em tudo que fazemos?" É o olhar da pessoa apaixonada que cria a imagem do objeto da paixão. É sobre Cecília Meireles que o Drummond escreve. Mas sua descrição, eu creio, se aplicaria a todos os objetos da paixão:

Não me parecia criatura inquestionavelmente real; por mais que aferisse os traços de sua presença entre nós, restava-me a impressão de que ela não estava onde nós a víamos. Distância, exílio e viagem transpareciam no sorriso benevolente... que confirmava a irrealidade do indivíduo.

A dor da paixão não satisfeita é essa: o apaixonado deseja possuir o objeto do seu amor, mas ele escapa sempre. Por isso ele sofre. Movido pela dor, quer possuí-lo. Não sabe que, para que sua paixão continue a existir, é preciso que ele continue escapando sempre. A paixão só ama objetos livres como os pássaros em vôo.

"...e da dor muito maior da paixão satisfeita".

A dor da paixão não satisfeita é iluminada por uma alegria. O apaixonado vive na presença de que um dia ele possuirá o objeto da sua paixão. Mas a "dor muito maior" da paixão satisfeita não tem mais esperanças. O objeto se desfez. Ela vive na tristeza do objeto perdido.

Escrevi uma estória sobre isso. A Menina era apaixonada pelo Pássaro Encantado. Mas ela sofria porque o Pássaro era livre. O Pássaro Encantado era sempre uma ausência que se demorava, uma despedida pronta a cumprir-se. O Pássaro lhe disse que era preciso que fosse assim, para que eles continuassem apaixonados. Ele sabia que a paixão ama pássaros em vôo. Mas a Menina não acreditou. Prendeu-o numa gaiola.

Gaiola? Há as feitas com ferro e cadeados. Mas as mais sutis são feitas com desejos.

Esquisito o que vou dizer: a alma é uma biblioteca. Nela se encontram as estórias que amamos. Romeu e Julieta, Abelardo e Heloísa, O paciente inglês, As pontes de Madison, Amor nos tempos do cólera, A menina e o pássaro encantado. As estórias que amamos revelam a forma do nosso desejo. Delas, escolhemos uma. É a nossa gaiola. Gaiola na mão, saímos pela vida à procura do nosso Pássaro. Quando imaginamos havê-lo encontrado – que felicidade! Ficará feliz em nossa gaiola. Será o amante da nossa estória de amor: eu para você, você para mim... Nós o colocamos lá dentro e pedimos que nos cante canções de amor.

Acontece que o Pássaro também tinha a sua estória. E era outra. Todo Pássaro deseja voar. Ele bate suas asas contra as grades, suas penas perdem as cores e o seu canto se transforma em choro. E, de repente, ele se transforma. Não mais o reconhecemos. É um outro. Essa é a razão por que a dor da paixão satisfeita é muito maior.

Contada assim, a estória parece ter um vilão e uma vítima. A verdade é que os dois são vilões, os dois são vítimas. O desejo da gente é sempre engaiolar o outro e levá-lo pelos caminhos que são nossos. Isso vale para tudo: marido-mulher, pai-filha, mãe-filho, patrão-empregado, professor-aluno... Não admira que Sartre tenha dito que "o inferno é o outro".

Não haverá uma saída. Lembro-me de um pequeno poema de Pearls que sugere a possibilidade de uma relação sem gaiolas:

Eu sou eu.
Você é você.
Eu não estou neste mundo para atender
às suas expectativas.
E você não está neste mundo para atender
às minhas expectativas.
Eu faço a minha coisa.
Você faz a sua.
E quando nos encontramos,
é muito bom.

Rubem Alves, O amor que acende a lua, 1999.

sábado, 13 de março de 2010

O que nos define?

Currículo foi uma forma que encontramos para dizer quem somos, o que fizemos, e nossos prováveis interesses. Fazemos cursos, vamos a congressos, apresentamos trabalhos, entre tantas outras coisas que são passíveis de acrescentarem uma linha naquela folhinha mágica, que pode virar páginas e páginas, intermináveis...

Histórico escolar é outra coisa que é requisitada algumas vezes. Quanto maior o numero de conceitos A, melhor?! A questão é o quanto que aquele A realmente significa o que ele realmente é? E o que aquele C, que ninguém quer, realmente transmite? Aluno que não se envolveu com a cadeira, professor indisposto a de fato ensinar, falha na relação professor-aluno, problemas na vida pessoal no dia da avaliação, entre tantas outras coisas que o histórico escolar não revela. Ele somente revela um conceito obtido pelo aluno, enquanto ele teve uma vida inteira para dar conta.

Certamente que currículos, históricos, perfis em redes sociais dizem muito de nós. Não tem como negar isso. O problema é que as margens desses papéis estão bem definidas. O formulário dá espaço para poucas coisas. Tem muita coisa que fica dita pelo não dito. Há tantas coisas que ficam nas entrelinhas. E ninguém está interessado, muito menos quer saber, o que há nessas entrelinhas. E assim vamos delineando as margens que dizem quem somos...

A propósito, quem somos nós? Como a gente é o que a gente é? Nossos gostos, escolhas, currículos, estilos de vida nos definem? A complexidade faz parte da natureza humana e não há como negar esse fato. Gostar de sertanejo significa que eu sou uma má pessoa? Dançar funk e pagode é sinônimo de falta de classe? Ser de esquerda é melhor que ser de direita? Ser assim é melhor que ser assado? O que nos faz ser melhor um que os outros? As titulações? Quem dera! Existe tanta gente sem títulos, mas que vale por muita gente muito bem graduada por aí.

Julias, Joãos, Marias, Pedros, Paulos... Pessoas que sabem valorizar a vida, simplesmente vivendo. Não caindo numa busca desenfreada por títulos, o que cá entre nós é bastante angustiante. Ficar o tempo inteiro procurando por mais e mais ostentações só gera cansaço. Faz mal pro ego ficar numa busca incansável por algo que nunca será encontrado. Afinal, quando se alcança um objetivo, logo vem outra meta para ser alcançada. E o processo todo é recorrente.

Bom mesmo é se dar conta da imensidão que somos. O preço da liberdade que temos em ser o que a gente quiser ser. Um adulto que gosta de quadrinhos, não te impede de ser um bom namorado. Uma mulher que coleciona bonecas não te impede de ser uma boa mãe. Gostar de alguém do mesmo sexo não te impede de ser um bom filho. Ter falhas não te impede de ser uma pessoa de sucesso. Existem várias maneiras de ser e estar no mundo. Descubra a sua, nunca esquecendo de se divertir sempre.

quarta-feira, 10 de março de 2010

A arte do apego.

Não me lembro quando foi que conheci a dita arte do desapego. Quando isso aconteceu, achei simplesmente demais. Talvez tenha sido numa comunidade do orkut, ou em um ppt que dizia que era preciso se livrar de certas coisas para ceder espaço para que coisas novas entrem na nossa vida. Isso é um tanto óbvio, mas nem por isso é preciso sair jogando todas as tuas coisas fora, não? Muito menos não se apegar às pessoas.

Atualmente vivemos em era totalmente virtualizada, e isso atravessa diretamente a forma como nos relacionamos - vide toda a infinidade de redes sociais existentes. Para iniciar uma relação, adicionar. Para terminar, deletar. Tudo é rápido, instantâneo e mutável.

Além disso, as possibilidades para mudança são infinitas. Imagine você estar em uma festa e ter que desperdiçar aquela mina porque a patroa está ao lado? O ideal seria estar solteiro disponível para o que der e vier. Na tentativa de querer ter todas as possibilidades, acabamos criando a arte do desapego. Com isso, acabamos deixando de estabelecer vínculos um tanto mais profundos.

Tememos esses vínculos porque aprendemos a não perder. Tudo tem que render lucros, prazeres e histórias para serem contadas. Por mais que todos nossos afetos um dia partirão, seja lá qual a forma. Desde por livre espontânea vontade até a forma mais bruta de perder alguém que é a morte. Com medo de um dia sofrer, acabamos optando por deixar todos livres e nos mantermos livres. Todo mundo em constante movimento. A direção não interessa. O importante é o estar no constante ir-e-vir.

Então a nossa vida acaba carecendo de um sentido que são dados por nossos afetos. Por mais decepções que eles possam a vir nos causar, também haverão alegrias. Por mais altos e baixos que ocorram por conta deles, uma vida totalmente linear algumas vezes perde a graça. Apegue-se à tua família, mesmo que ela faça certas cobranças pensando no que ela acha melhor para ti, mesmo que tu saibas o que é melhor para ti. Apegue-se aos teus amigos, apesar de todas as possíveis divergências. Apegue-se àquela paixão, que realmente valha a pena, e transforme-a em amor. Apegue-se, viva, chore, ria. Não é porque o final é triste que o filme não valeu a pena. Perca o medo também, nem sempre o final é triste.

Sim, algumas das idéias defendidas aqui são um reflexo de algumas leituras do Bauman. (:

sexta-feira, 5 de março de 2010

viciados em drama.

“Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade.” Clarice Lispector
Esses dias fui tomado de uma reflexão, e cheguei a conclusão de que gosto de histórias com final triste. Sabe aqueles dramalhões que no final ninguém fica com ninguém, tudo dá errado, e por aí vai? Depois de chegarmos à conclusão de que Felizes Para Sempre não existe, achamos que essas histórias opostas ao happy ending é que são veriditicas. No fundo, felizes para sempre não existe, mas que infelizes para sempre também não. A felicidade é uma questão de instantes. Hora sim, hora não.

Porém, quantas vezes estamos a um passo de nos proporcionarmos um momento de alegria, e recuamos. Pode ser que nem nos damos conta desse sabotamento, mas ele acontece. Seria um instinto masoquista? Para que ser feliz, se eu posso sofrer? Herança do cristianismo que nos diz que sofrendo nessa vida, teremos o paraíso? Não sei, mas sem se dar conta, a gente vai lá. Melhor a gente não vai lá, porque chegar lá é sinônimo de ser feliz.

Recordo de uma cena de Desperate Housewives, em que Susan Mayer percorre uma trilha à procura de Mike Delfino. A mulher que a acompanhava disse a ela uma singela frase: “Você não saber ser feliz. Você é uma viciada em drama. Quando não há drama, você o cria. [...] Porque você não sabe como somente ser feliz.”

E porque somente ser feliz? É tão mais cômodo ser infeliz, ficar sofrendo e se remoendo. Choveriam exemplos de pessoas que se sabotam, e adiam momentos que tragam satisfação. É aquela menina sonhadora com um amor eterno e verdadeiro, mas que decide sair com um homem que logo de cara fala que é galinha. É aquele pai de família que pretende passar mais momentos com a família, o que lhe traz alegria, mas que vive pegando mais e mais trabalho para fazer. É aquele bônus que veio no fim do mês, e poderia dar mais conforto para a casa, mas vai direto para a poupança, como se nunca tivesse existido.

Às vezes, nos sabotamos sem se darmos conta. Pensamos de um jeito, agimos da maneira oposta. Talvez essa seja a forma de continuar na batalha. Se a batalha chegar ao fim, a guerra termina, saímos vitoriosos e agraciados com todos méritos. Talvez ficar sofrendo seja uma forma que encontramos de nos manter jogando. A questão é que a gente não é feliz, mas sim está feliz. Ou seja, por mais que adiamos um momento feliz agora, não seremos felizes para todo e sempre.
E se, de repente, a gente não sentisse a dor que a gente finge e sente? (Chico Buarque)
Como ser SÓ feliz? Sem criar dramas? Às vezes, a dor é tão prazerosa. E tudo o que dá prazer pode ser viciante, e aí começam os problemas. Ninguém nasceu pra ser mártir, muito menos para sofrer, ainda que existam alguns ensinamentos totalmente necessários de ser aprendidos e o único sentimento capaz de ensinar é a dor. Porém, da mesma maneira que felizes para sempre é uma utopia, sofrer sempre também é um martírio. Permitir-se! Dar-se o direito! De só ser feliz, e agora!

segunda-feira, 1 de março de 2010

aos poucos, ele vem chegando.


A primeira mudança começa com um ato quase nacional. O ajuste de relógios para o fim do horário de verão. Gesto simples, mas que já nos avisa que vai começar a escurecer uma hora mais cedo. Depois disso, a terra e o sol girando, girando e girando vão fazendo com que os dias se tornem cada vez mais curtos. Tu começas a reparar esse fato ao notar a partir da entrada do sol matinal no teu quarto que já não é mais na mesma direção que vinha sendo até então.

Junto com isso, começa a vir o frio. Foi semana passada que alteramos o horário. Foi semana passada que fomos agraciados com uma frente fria que veio da Argentina. O calorão deu uma amenizada. Não que não seja mais calor. Ainda é, mas dá para usar uma calça tranqüilamente. Sem medo de suar.

E a janela, sempre aberta para não sufocar entre tanto calor? Agora ela permite a entrada daquele ventinho que convoca o uso de um edredom, já que falta alguém próximo para abraçar e esquentar e dar o carinho de que tanto prescindimos. Ou que tanto queremos. E todas essa sensações com a chegada do frio misturam-se com uma nostalgia. Daquele rolo que poderia ter sido, mas não foi. O número ainda está lá na agenda; o recado, na página do Orkut; e a mensagem ficou para ser deletada, mas. O fantasma preenche mais que a pessoa que estava ao seu lado até ontem. E olha que cronologicamente esse ontem faz muito tempo que passou.

Na falta de alguém, vasculhamos nossos armários em busca de um casaquinho. Ou não, ficamos assim mesmo, vivenciando um friozinho amigo. Porque sentir o frio desse jeito não tem preço, mesmo que segundos depois venha uma série de espirros. Como se quisessem avisar “te agasalha, se não vem gripe”. Dane-se, não perco esse calor com vento fresco por nada.

A temperatura beira a um ideal, nem muito quente, nem muito frio. Mas que vai se tornar um frio que castiga. Enquanto o forte dele não chega, começamos as trocas. As bermudas pelas calças. Só camiseta por moleton, casaco, cachecol. Os sucos e frutas por brigadeiros e carboidratos. O champagne pelo vinho. A boate de todo final de semana por um programa mais reservado em casa. O caso rápido e festeiro do verão para uma troca de telefonemas que pode vir a ser. Outra noite, um cinema, uma transa, um affair.

E seguimos em frente, porque viver é isso. Depois do outono, vem o inverno. Reclusos, com nossos medos e fantasmas, hibernamos, fugindo do frio e dos perigos desse mundo. Um dia chega a primavera e começa tudo de novo. Porque a vida é dessas: cíclica!