quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

vida.



para terminar um ano. para começar um ano.

fé. porque a gente precisa.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

sexta-feira a tarde.

livros espalhados pela mesa. todos técnicos. e aquela vontade imensa de ler livros que trouxessem o que tanto prescindia. há muito tempo perdeu o contato com a poesia. e sente falta, tanta. mas prossegue: ouvindo alanis, saia espalhada pela superfície do chão, deitada e refletindo sobre a vida e sobre o que é viver. unha descascada, não ligando para comentários de puta pobre. na boca, aquele hálito de café. recem havia tomado um, ainda que fosse seis horas da tarde, e segundo recomendações dos médicos, ingerir café após esse horário provoca insônia. não interessa, nem importa. na gaveta, rivotril, juntamente com seu habitual prozac. dormir não seria seu problema hoje. ainda mais que havia combinado de sair com suas amigas, e depois nada mais saberia. encontraria paulo, mas não sabia o que realmente estava sentindo e se essa era sua vontade. desejo, necessidade.... amor, falta dele! e um vazio imenso... que não mais angustia como outrora angustiou. coisas não resolvidas, palavras por dizer, amores por viver. ela percebia e sentia tudo, e não sentia mais a necessidade de contar para um terceiro. afinal,

domingo, 19 de setembro de 2010

uma mão na cintura.

porque de repente me deu vontade de dizer não. e deu vontade de dizer sim. me embaralhei como tivesse que ser só uma coisa, mas não. tenho em mim um mundo inteiro. de amores e dissabores. que resultam nessa amargura. quisera eu poder te dizer tudo o que eu sei. e extrair toda essa raiva do meu coração, batendo-te na cara. mas me recuso a fazer isso. pois sei que a vida vai te dar os tapas que tanto desejo dar, sem que seja necessária a minha intervenção para esse fato acontecer.
e sei que para que tu um dia me encontres, se assim o desejar, é necessário todo um processo para chegar ao momento em que possivelmente nós dois nos uniremos. mas sigo. caminhando. não mais com aquela pressa que me era característica; porque cansei. vieram, me pegaram, me deixaram, me abandonaram. depois me tocaram. me senti viva. tanta frieza nesse cotidiano que uma simples mão na minha cintura foi capaz de despertar o que estava reprimido nas profundezas. e me deu vontade de tentar tudo novamente. entregar-se como nunca fiz antes. mas não foi só uma mão na cintura.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

tempo [e espaço] que não volta.

Ontem as aulas reiniciaram. E eu me dei conta do quão mágico é estar na faculdade.
Aulas, conversas, ensino, bobagens, pesquisa, dores, extensão, desamores, conhecimentos, decepções... Amigos, colegas, professores... E sim, pessoas chatas e insuportáveis também, porque é da vida a presença delas aonde quer que formos. E é tão bom estar solteiro, se iludir e se decepcionar, ter milhões de trabalhos a fazer, ouvir sempre os mesmos discursinhos, ter colegas para dividir as angústias. E reclamar MUITO disso tudo, sabe? Que sempre tá ruim, pode piorar, que isso e que aquilo. A gente fode, mas se diverte - clichêzão, mas que se aplica a esse caso.
Não quero me formar, embora esteja correndo em um caminho oposto a essa afirmação.

No dia da formatura, faço birra e digo: Não quero mais brincar!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

porque metade de mim é amor e a outra metade também.

porque eu precisava compartilhar esse trecho com vocês. ele fala, grita, berra! e enquanto eu não consigo escrever o que prescindo, esse texto fala por mim.

24 de junho
Agora é noite, caro diário, e estou no terraço fora de casa observando o mar.

Está tudo tão calmo, quieto, suave; o calor atenua as ondas e sinto seu rumor distante, pacífico e delicado... A lua está um pouco escondida e parece me observar com um olhar de compaixão e indulgência.
Pergunto a ela o que devo fazer.
Ela me diz que é difícil extrair as incrustações do coração.
O meu coração... Eu não me lembrava que tinha um. Talvez nunca tenha sabido.

Uma cena comovente no cinema nunca me comoveu, uma canção intensa nunca me emocionou e no amor eu sempre acreditei pela metade, considerando que era impossível conhecê-lo de verdade. Mas eu nunca fui cínica, isso não. Simplesmente ninguém nunca me ensinou a expressar o amor que eu guardava dentro de mim, escondido, fechado para qualquer um. Mas ele estava em algum lugar, era só desentocálo... E eu procurei por ele projetando o meu desejo em um universo do qual o amor estava banido; e ninguém, ninguém mesmo, barrou minha passagem dizendo: "Não, menina, daqui não se pode passar."

E meu coração ficou trancafiado em uma cela gelada, e era perigoso destruí-la de um só golpe: o coração ficaria danificado para sempre.

Mas depois veio o sol, não esse sol siciliano que queima, que cospe fogo, que cria incêndios, mas um sol suave, discreto, generoso, que derrete o gelo devagar, evitando assim que a minha alma árida se inunde de repente.

No começo me pareceu que era obrigatório perguntar a ele quando é que a gente ia fazer amor, mas depois, no momento em que estava para perguntar, mordi os lábios. Ele entendeu que alguma coisa não andava bem e perguntou:
- O que houve, Melissa? - Ele me chama pelo meu nome, eu sou a pessoa, a
essência, não o objeto e o corpo.
Sacudi a cabeça:
- Nada, Claudio, nada mesmo.
Ele pegou a minha mão e a apoiou em seu peito.
Tomei fôlego e balbuciei:
- Bem, eu estava me perguntando quando é que você ia querer fazer amor...
Ele ficou em silêncio e eu morta de vergonha, sentindo a cara pegar fogo.
- Não, Melissa; não, tesouro... Não sou eu quem vai decidir quando é que a gente vai transar, a gente vai resolver junto, se e quando. Mas vamos ser sempre eu e você, juntos. Ele sorriu.
Eu olhava para ele estupefata e ele entendeu que meu olhar perdido era um pedido para que continuasse.
Porque, olha só... quando duas pessoas se unem, é o ápice da espiritualidade, e isso só aqueles que amam alcançam. É como se um turbilhão envolvesse os corpos e então nenhum dos dois é mais ele mesmo, um está dentro do outro da forma mais íntima, mais interior, mais bonita.

Ainda mais espantada, perguntei o que ele queria dizer com aquilo.
- Que eu te amo, Melissa - respondeu ele.
Por que esse homem conhece tão bem aquilo que para mim parecia até poucos dias atrás impossível de encontrar? Por que a vida me reservou até agora só maldade, sujeira, brutalidade? Esse ser extraordinário pode me estender a mão e me tirar da cova estreita e malcheirosa onde me escondi amedrontada... Lua, você acha que ele consegue?

As incrustações são difíceis de se tirar do coração. Mas talvez ele possa pulsar tanto que acabe rompendo em mil pedacinhos a couraça que o prende.

Retirado de 100 Escovadas Antes de Ir Para a Cama - Melissa Panarello.

domingo, 11 de julho de 2010

ambivalências.

porque eu me li ali, nessas palavras.
"E agora eu quero essa outra vida, não importa quanto tempo seja preciso, agora eu quero alguém que se interesse por Melissa. A solidão talvez esteja me destruindo, mas já não me dá medo. Eu sou a melhor amiga de mim mesma, eu nunca iria me trair, me abandonar. Mas talvez me machucasse, me machucar talvez sim. E não porque isso me dê prazer, mas porque quero me punir de alguma maneira. Mas como é que faço para me amar e me punir ao mesmo tempo? É uma contradição, diário, eu sei. Mas nunca o amor e o ódio estiveram tão pertos, tão cúmplices, tão dentro de mim."
Melissa Panarello. 100 escovadas antes de ir para a cama. Página 37

sábado, 3 de julho de 2010

sobre o coração e suas fases.

para ouvir lendo: gossip - love long distance.



Sim, de novo. Sobre amor, porque é assim que sou. É isso que busco, é disso que prescindo, e foi assim que me constitui. Sou um tolo em se tratando de amor. Quando acho que sei algo, surge uma situação nova e diferente que me faz questionar tudo até então. O mais engraçado é que por mais que eu fale, fale, fale, e me perca falando, não tem nada que dê conta do que é sentido. E reluto, me repenso, me questiono, e vou produzindo minha vida.

Não tenho pretensão de relações casuais. Porque elas não existem. Toda relação me causa, desde felicidade até irritações. Quanto a primeira, não existe concepção, somente sentimento. Não há palavras para descrever, e se existissem, eu não as queria. Sentir é melhor.

E as irritações? Quando o bom desanda, demasiadas! Frente a frustração, num primeiro momento, a necessidade de auto-afirmação, que varia conforme cada pessoa, surge e nos faz berrar. Necessidade sim, afinal, perdemos, sei lá o quê, mas perdemos. Magoados, recusamos a dar a chance para outras pessoas entrarem na nossa vida. Com medo de uma nova possível decepção, aumentamos todos os requisitos para que uma pessoa se aproxime, criando paredes que nada mais são que critérios de seletividade bem rígido. Isso, no final das contas, nos seleciona a ficar só. E precisamos, algumas vezes.

Então, passamos a conviver com a nossa solidão, que por ora nos assusta, e por ora nos vai dizer o quão bom é estar com outra(s) pessoa(s). Como um processo natural, deixamos de caminhar olhando para baixo, e começamos a olhar para os lados. Desejamos, procuramos, nos perdemos, encontramos, somos encontrados... Vem o desejo e talvez o afeto brote e vire uma história e começa todo aquele processo de sentir coisas boas, desejo de estar ao lado de que nos faz bem, e tantos outros desejos, carnais ou não.

E o ciclo pode se reiniciar ou não. Por mais que tentamos dar uma lógica, humanos não seguem etapas cronologicamente, e as experienciam de diferentes formas.

Não sei em que etapa do processo me encontro. Talvez me encontre em processo de transição. Assim espero e assim quero.

domingo, 20 de junho de 2010

A agonia de Sex and the City

Adaptação do seriado para o cinema trai o vigor original e naufraga nos clichês

HADLEY FREEMAN | The Guardian
Tradução: Fernanda Pandolfi



Eu não estou pedindo muito. Não quero me desesperar com a crescente incapacidade de Hollywood de colocar mulheres em filmes de comédia em outro papel a não ser o de meninas com seios fartos obcecadas por si mesmas. E eu não quero, na maioria das vezes, perder duas horas assistindo a sonhos e lembranças da minha juventude sendo pisoteados em uma humilhante paródia de si mesma. Isso é pedir demais? Parece que sim, a julgar por Sex and the City 2 um clichê materialista, misógino, borderline racista com franjas cor-de-rosa.

O seriado era fantástico: inteligente, engraçado, acolhedor e sagaz, um apelo diferente do de “mulheres de meia-idade transando constrangedoramente com vários parceiros inadequados”, clichê que outros escritores usavam. O livro original de Candace Bushnell, no qual o seriado foi baseado, era bom, mas o seriado era ótimo. Sim, havia sexo e compras. Mas ao contrário dos filmes, não eram as únicas abordagens, e não era só com isso que as personagens se importavam. Mas agora, traiçoeiramente, os filmes confirmam todos os piores (e errados) pressupostos (a maioria de homens) feitos sobre o seriado e sua audiência (a maioria de mulheres).

No seriado de TV, as mulheres reprimiam Samantha por suas tentativas malucas e ocasionais para manter a juventude, e ela sempre aparecia falante e corpulenta, amando sua aparência. No segundo filme, ela engole 44 pílulas cada manhã para “fazer com que meu corpo pense que é mais jovem”.

A série de TV foi muito corretamente criticada por raramente ter personagens que não fossem brancos. A resposta nervosa do primeiro filme a essa situação foi incluir uma personagem negra, mas como assistente de Carrie, representada por Jennifer Hudson, que é submissamente grata pelas peças de estilistas famosos rejeitadas do guarda-roupa de Carrie, e então, no final, retorna ao Sul, onde as pessoas negras pertencem. O segundo filme vai ainda mais longe, porque os personagens são enviados a Abu Dhabi. Nunca, desde As Mil e Uma Noites, o orientalismo foi tratado tão ironicamente. Todos os homens do Oriente Médio são filmados em uma luz brilhante com uma música jingle jangle, para caso você não tenha entendido que essas pessoas morenas são exóticas e diferentes.

Em ambos os filmes a mensagem é: mulheres desejam um anel de noivado a todo custo; no seriado, Carrie rejeitou Aidan, que era perfeito em tantos quesitos, porque ela não pôde, não importa o quanto tentasse, se convencer a casar com ele. A diferença de como os empregos das mulheres são tratados no seriado e no filme talvez seja o melhor exemplo do quanto o seriado afundou.

Na série, repetidamente víamos Miranda trabalhando em seu escritório como uma das sócias em uma empresa de advocacia e, sim, o emprego é difícil e consome tempo, mas ela o adora – e o seu sucesso é um distintivo de orgulho. O mesmo acontece com Samantha em sua profissão de Relações Públicas. Até Carrie, que trabalha como uma colunista de jornal, um emprego que eu posso pessoalmente assegurar que não é fisicamente compensador, demonstra verdadeira satisfação com a sua profissão, até o ponto em que se disponibiliza à demissão, na última série, por causa de seu namorado russo – já é um mau sinal. Também tem um episódio inteiro sobre a dificuldade das amigas em aceitarem a decisão de Charlotte de deixar de trabalhar quando se casa, e namorados que não levam o trabalho a sério são vistos como sanguessugas imaturos. No primeiro filme, não somente nunca vemos Miranda trabalhando, mas seu emprego é a razão para a infidelidade de Steve, porque ele não estava recebendo atenção o suficiente de sua esposa que estava trabalhando para sustentá-lo. No segundo filme, adivinha? Ela deixa o escritório de advocacia!

Então, vem a moda. As amigas sempre usaram roupas de estilistas famosos no seriado, mas os filmes são um pouco mais do que duas horas de propagandas, ressaltando o fato de que Parker é atualmente a diretora criativa da Halston Heritage, uma marca que aparece bastante no segundo filme. Se os filmes mataram o sonho Sex and the City, então, em retrospecto, sua agonia pode ser vista na última série, insistindo que Carrie tem que ficar junto com Mr. Big no final sem se importar que isso seja totalmente fora do perfil de ambos os personagens, sem se importar que isso vá contra tudo o que o seriado ditava sobre mulheres não precisarem ficar com homens que fazem com que se sintam como lixo. Estranhamente, enquanto o seriado se tornava mais bem-sucedido, essas abordagens se tornavam mais convencionais, perdendo a identidade.

A morte de Sex and the City não é só vergonhosa para as fãs, mas para todas as mulheres com maiores expectativas sobre filmes com o tema “mulheres” que vão além de um resumo de clichês da imprensa popular.

Carrie, você pode ter comprado muitos sapatos nesses filmes. Mas, infelizmente, você se vendeu.

Retirado do Caderno Donna do Jornal Zero Hora. Link aqui!

sábado, 19 de junho de 2010

sabedoria de mary alice.


Nesse drama infinito que chamamos de vida, todos temos nossos papéis. Alguns têm papéis românticos. Outros acabam sendo as vítimas. E alguns proporcionam cenas de comédia. Mas para que o drama seja mesmo convincente, é preciso que haja um herói e um vilão.
(Desperate Housewives, Season 6, Episode 14)

Quer saber? Bom mesmo é se dar conta que não existe vilão, nem herói. Somos as duas coisas, ao mesmo tempo. Somos humanos, com toda complexidade que isso abarca. Herói ou vilão? Heróis E vilões!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

A ordem na teoria do caos

Assisti ao filme “O curioso caso de Benjamin Button” semana passada. Um filme muito bom, por sinal. Teve um trecho que despertou a minha atenção. Aquele no qual ele narra os acontecimentos antes de ela ser atropelada. Ele conta que, se ela tivesse feito qualquer coisa diferente, ter dado qualquer passo em falso, ter se atrasado, o desfecho seria diferente. Mas não, tudo foi como foi, uma sucessão de acontecimentos que culminou com o atropelamento dela.

É um filme, eu sei. Na ficção não faltam exemplos de desencontros que acabam mudando a vida dos personagens. Ele estava carente, e decidiu ligar pra ela, que estava num encontro, a fim de superar ele. Ela não atendeu, ele procurou outra e assim vão indo os capítulos até o (mal)dito happy end.

E a vida real? Será que a vida imita a arte? Vivemos a teoria do caos e o bater de nossas asas provoca um tufão do outro lado do mundo? Será que é necessário ir até o outro lado do mundo para sentir tal tufão? Provavelmente, não. Cada ato gera uma conseqüência. Um fato está encadeado no outro, o que faz com que a única ordem existente é que tudo é uma simples bagunça.

Só paramos para pensar na dimensão de nossos atos, quando cometemos um erro. E se eu tivesse feito assim, e se eu tivesse feito assado... Se as coisas sempre dão certo, nunca paramos para pensar, sempre continuamos caminhando, seguindo e indo em frente.

Restringindo para uma dimensão bem detalhada, a vida é a teoria do caos. Cada bater de asas, um tufão. A questão é que não somos borboletas isoladas, existem várias batendo ao mesmo tempo. Se uma sozinha já gerava um tufão, imagine várias. Cuide-se com ciclones, tornados, furacões...

publicado originalmente no chiclé clichê em 13/08/09.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

os jogos que jogamos.


Quando crianças, para ocupar nosso tempo e como uma necessidade, brincamos. O brincar é uma primeira socialização com outras pessoas. Uma de suas modalidades são os jogos. Existem os mais variados e para os mais diversos gostos. Para quem precisa do contato físico, Twister. Para quem gosta de bolar estratégias, xadrez e afins. Para quem gosta de exibicionismo, não faltam jogos de montar roupas nas bonecas, e afins. Enfim, existem os mais diversos jogos que variam conforme o gosto de cada um. Porém, para que um jogo seja jogado é necessário a presença de duas ou mais pessoas, que estejam afim de brincar da mesma coisa.

O menino quer brincar de lutinha, mas a menina não está afim. A menina quer brincar de casinha, e convoca o menino para ser o 'homem' da casa. O menino encontra outro menino para brincar de lutinha, ou bate na menina. A menina brinca de casinha com outras meninas, fingindo estar sozinha porque o marido saiu de casa para trabalhar, mas que troca dicas de dona-de-casa com outras meninas [Sei que isso toca na questão do gênero, e eu estou extremamente sendo clichê, mas esse tema é discussão para outros post's.]

Crescemos, e descobrimos o jogo das relações, mais precisamente das relações amorosas. Para que um relacionamento vingue é preciso que as duas pessoas estejam afim do mesmo objetivo. Ou que haja um encaixe entre as diferentes formas de existir. Se isso não acontecer, bem, no hay relación. Algumas relações podem nos parecer estranhas, mas funcionam à sua maneira.

Por exemplo, existem mulheres que são vítimas de seus conjuguês e mesmo assim preferem ficar com eles. Se um terceiro interferir nessa relação, ela muda de configuração e pode até findar. Há ainda aquele relacionamento que se pauta em cima da assertiva "vou me matar, se você me deixar". Um lugar de impossibilidade de término é criado, que pode ou não ser ocupado pela pessoa a quem isso é destinado. A questão que me proponho a colocar é que por mais estranhamentos que essa frase possa causar é nisso que o relacionamento se baseia, caso ele vingue e ganhe vida. Outro exemplo possível são aqueles relacionamentos em que para segurar o homem, a mulher engravida. Como se esse fato fosse determinante da relação. Há casais que vivem muito bem, quase se matando entre quatro paredes, mas aparentando uma imagem perfeita e idealizada fora destas paredes. E é isso que os faz ficarem juntos.

Tal qual nos jogos infantis, é necessário que as pessoas estejam disponíveis para a mesma finalidade, que é construída por elas, enquanto configuração do relacionamento. Por mais que ao nossos olhos a relação seja impactante, como nos casos em que a relação se pauta em violência, se esse é o funcionamento que eles têm, não adianta querer modificá-lo, pois inclusive corremos o risco de terminarmos a relação, ainda que isso seja necessário quando há risco de vida ou outra questão que possa prejudicar alguém.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Coadjuvantes

Dizem que a arte imita a vida. E a recíproca também é verdadeira. Seja em filmes, seriados, novelas, sempre existem as personagens coadjuvantes. Aqueles cuja função é desempenhar um pequeno papel para impulsionar a história principal. É aquela personagem que entra para fazer uma maldade. É aquele bandido que entra para roubar a mocinha de seu amor. É aquela vaca que separa os dois pombinhos, antes do gran finale. E eu perderia uma eternidade descrevendo os diversos tipos de pessoas que entram, desempenham sua função e vão embora (e que nos irritam na maioria das vezes pelo fato de serem simplesmente tapa buracos).

Será que a vida imita a arte também nesse sentido? Diversas pessoas entram na nossa vida, fazem uma atuação coadjuvante e depois continuam a vida delas, que muitas vezes não significa virar um dos protagonistas da nossa história. Aquela história de carma é verdadeira? Era preciso que fosse só uma noite? Era preciso que aquele canalha entrasse na tua vida, te fizesse sofrer, magoasse e depois partir sem menos um adeus? Era preciso que tu gastasse toda aquela grana pagando bebidas para aquela pirigueti, que só queria saber de curtir a noite a tuas custas?

Às vezes, desejamos que as coisas deem certo, sejam eternas, e durem pra sempre. Talvez era preciso se machucar com um qualquer para depois curtir o verdadeiro amor. Talvez era necessário pagar bebidas para uma pirigueti para depois saber que podia se pagar um belo jantar a luz de velas com uma pessoa que realmente valha a pena. Foi preciso que ele entrasse na tua vida, te machucasse para tu aprender a não te entregar tão fácil? A ir devagar e saber que cada coisa tem seu tempo. Aprendida a lição, não cometes mais o mesmo erro... Lendo isso, parece fácil e soa tão bonito, mas na prática, na vida real, dói, machuca e angustia. Decepções não matam, mas ensinam a viver – é um clichê, mas só virou clichê, porque para virar clichê, tem que dar certo. Sofremos com as perdas, as faltas, os machucados. Porém, é isso que faz o mundo girar. Nem só de finais felizes a vida é feita. Talvez os coadjuvantes entrem em nossa vida para nos ensinar alguma coisa, antes de sermos felizes com os protagonistas de nossa historia.

[publicado originalmente no chiclé clichê em 07/09/09.]

sábado, 24 de abril de 2010

pode emoldurar?

navegando no acasos afortunados, fui brindado com um trecho que merece ser colocado nos textos para a vida.

O bom encontro é de dois...

"[...] O bom encontro é de dois, porque quando você caminha os passos do outro, aquilo que era pra ser um encontro deixa de ser encontro e passa a ser perseguição. Por mais que a gente queira, deseje, ame, pra que seja de verdade é preciso que o outro também venha...

É dar os nossos passos que nos cabem e esperar que o outro dê os passos que lhe cabem, em retorno. É fazer a nossa parte e esperar que a outra pessoa faça a parte dela, de volta. Mas nem sempre é assim...

Texto bobo. Mas é que a gente sofre quando tem as expectativas devastadas... Todo mundo sofre. Acho que o mais difícil é asumir nosso sofrimento com dignidade e reaprender a continuar da melhor forma que puder. Sem se desrespeitar, se humilhar ou perder o amor-próprio... sei lá. [...]"

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Cicatrizes

Machucados, cortes, cicatrizes. Marcas que se fazem no corpo durante essa coisa louca que é viver. Você se machuca e dependendo da gravidade você precisa de um remédio, de uns pontos e cirurgias. Após o machucado, vem o tempo que a gente deve evitar certas coisas a fim de obter uma melhor recuperação. Não fazer exercícios físicos, não comer determinados alimentos, não isso, não aquilo, restrições... Se for um corte na pele, é provável que a cicatriz apareça. Se for em algum órgão interno, meus conhecimentos médicos não permitem fazer tal afirmação, mas provavelmente deva ficar alguma cicatriz. A questão é que não as vemos como veríamos se fosse na pele.

Outra coisa que não vemos? Cicatrizes emocionais. Essas, carregamos por um longo tempo em nossa vida. Às vezes elas doem tanto que continuamos o resto da vida com a dor do corte que as causou. Ainda bem que nem sempre é assim. A gente se machuca, se recupera e aprende a lição. Se eu fizer isso novamente, me machucarei. No entanto, isso não descarta a possibilidade de nos machucarmos, já que o perigo atrai algumas vezes. E nem é preciso falar do plano emocional, vide jogadores de futebol que machucam e continuam jogando, isto é, correndo riscos.

O corpo humano deveria ser perfeito, mas não é. Câncer é a prova disso. Diante de um machucado, o corpo busca voltar à homeostase. Recuperar-se da ruptura que sofreu. Nós seres humanos temos um corpo, mas também somos assim em relação a nossa vida emocional. A vida deveria ser perfeita, mas não é. A infância não foi das melhores, o pai foi ausente, o marido trai, as pessoas mentem, trapaceiam... São coisas que acontecem e deixam suas marcas. Não falo no sentido negativo, de marca ruins, mas no sentido de que se o pai ou a mãe foram ausentes tentaremos suprir essa falta de outra maneira. A mulher é indiferente? Busca-se companhia fora de casa. Um amigo apronta, busca-se outros amigos para preencherem a nossa necessidade de afeto. Obvio que não vai ser a mesma coisa que se esse amigo estivesse ocupando esse espaço. É preciso viver e se dar conta de que as coisas são o que são, não idealizações que temos em nossas idéias. Aceitar a realidade tal qual ela é, e tentar modificar quando vemos que algo não anda tão bem.

Falhas, faltas, buracos, vazios. Se a vida fosse perfeita, não conheceríamos essas palavras. Se fossemos pobres coitados, não reagiríamos a tais desvios do percurso. Falando parece fácil e até soa bonito. Mas dói, incha, inflama, às vezes infecciona. E não existe remédio para curar esses sintomas. É o papo do poeta: a dor é inevitável, o sofrimento opcional. Devemos não acabar padecendo do sofrimento extremamente, mas também devemos entender que querer que certos machucados não doam é a mesma coisa que não querer que eles fiquem curados algum dia. A vida é um processo e a etapa subseqüente depende consideravelmente daquela em que nos encontramos agora.

Não sei quanto a vocês, mas eu espero estar me curando de uma ferida. Bem, a cicatriz? Faz parte de mim, e eu vou levá-la para o resto da vida, embora eu não sei o quão boa é a marca deixada.

[publicado originalmente no chiclé clichê em 21/07/09.
republiquei porque inventei de reler, e tem umas lições que eu sempre me esqueço.]

quarta-feira, 7 de abril de 2010

fragmentos foucaultianos.

"Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo".
___

"Se ao começar a escrever um livro, você soubesse o que irá dizer no final, acredita que teria coragem de escrevê-lo? O que vale para a escrita e para a relação amorosa vale também para a vida. Só vale a pena na medida em que se ignora como terminará.
(In: Foucault, Michel. Verdade, Poder e Si mesmo.)

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Ai, se eu tivesse!

Ai, se eu tivesse ouvido meus pais e não investisse nesse projeto. Agora eu não estaria cheio de dividas. Se eu fizesse o que eles recomendaram, talvez eu estaria rico.
Ai, se eu tivesse aceitado aquela proposta para trabalhar em outra cidade... Sair da casa dos pais é uma barra, mas eu acho que aguentaria. Não tenho um emprego ruim, mas não tenho perspectiva de crescimento profissional.
Ai, se eu tivesse ligado para ele, explicado o que me incomoda nele. Talvez a gente tivesse começado um relacionamento. Mas não, simplesmente não mandei mais noticias. Foi melhor assim. Será?
Ai, se eu tivesse engolido os defeitos dela. Hoje a gente estaria namorando. Quem sabe até casados, planejando comprar a nossa casa e ter filhos.
Ai, se eu tivesse feito meu doutorado no exterior. Maldita a hora em que tenho um marido e uma casa para cuidar. Se eu tivesse ido, hoje as minhas oportunidades profissionais seriam maiores e melhores.

A vida é feita de escolhas. Escolhemos e pagamos pelo preço do que escolhemos. Ao escolher fazer doutorado no exterior, a mulher poderia ter abandonado e quem sabe até arruinado um casamento que se consolidava mais a cada dia que passava. Ela poderia ter um titulo, mas poderia ficar solteira novamente. Qual a melhor opção? O que ela devia ter feito? Não existe melhor escolha. Cada escolha é única, as conseqüências idem. Se ela fizesse de um jeito, o desfecho seria condizente com sua escolha. Se ela fizesse de outro, idem.

Aí entra em questão os se da vida. Se eu tivesse feito assim e feito assado. Quando algo dá errado, o se aparece como possibilidade para pensar em um caminho diferente do real. Tarefa desgastante essa. Ficar pensando em um resultado diferente é ficar se culpando pelo resultado real. É ficar se autocondenando.

Se eu tivesse feito assado, não daria errado como deu assim. O erro deixa de ser erro, passando a ser aprendizado quando extraímos o ensinamento do fato ocorrido. Se eu não tivesse feito assado, eu não teria adquirido experiência por contra própria. Por mais que os outros digam, nos dando a teoria, a gente sempre aprende na prática, quebrando a cara.

[publicado originalmente no chiclê clichê em 12/03/09.]

[Des]Gostos em comum

Para qualquer tipo de relacionamento entre pessoas exista é necessário que ambas as partes tenham algo para compartilharem. Há quem diga que todos os seres humanos têm algo em comum. Ou seja, é possível começar uma relação, seja qual for a espécie, com qualquer pessoa que esteja próxima.

No entanto, quando eu vejo alguém falando de algo que eu também não gosto me traz uma sensação de alívio. Meu complexo de culpa por não gostar de determinada coisa ou pessoa se esvai na hora. Por mais que não possamos gostar de tudo, às vezes, achamos que o problema é só com a gente por não gostarmos disso ou daquilo. Então, aparece alguém com um desgosto em comum. O funcionamento do desgosto em comum, na verdade, é o mesmo do gosto em comum. Os dois são regidos pelo “em comum”. Apesar disso, o desgosto tem algo a mais: a extinção de um complexo de culpa por sentir que somente eu não gosto de tal coisa.

Outra situação reconfortante é quando encontramos uma pessoa na mesma situação em que nos encontramos. Saber que há outras pessoas com o mesmo problema, ameniza a intensidade do nosso. Talvez é por isso que às vezes compartilhamos nossos anseios, dúvidas e medos. Nessas horas vemos que não estamos sozinhos com nossas neuras e dúvidas. Além de ser em grupo que achamos, às vezes, uma solução para estas.

publicado originalmente no chiclé clichê, em 07/09/08.

quarta-feira, 24 de março de 2010

sobre a impossibilidade de controlar a vida.

Um fato que a gente aprende com a vida é a impossibilidade de controlá-la. Quando algo não sai conforme o esperado, escolha um dos três: tristeza, raiva e/ou angústia. Quando somos agraciados com algo inesperado, as opções são: felicidade, euforia e/ou gratidão. Diante do fato, faça a escolha (ou espere que ela a escolha) e sinta-a na própria pele.

E a gente sofre...

Um possível desfecho é seguir a lição de alguém que provavelmente sofre desse mal, Bree Van de Kamp: tomar um chá.

Camomila, por gentileza!























sexta-feira, 19 de março de 2010

revisitando-me.

Esses dias fui procurar alguns escritos antigos, e me deparei com esse. Escrito nos idos 2006. Achei no mínimo engraçado.

Sara era uma garota de 16 anos que como toda brasileira não tinha nada para fazer no domingo. Decidiu ir ao clube. Foi até o guarda-roupas, e pegou o último biquini que havia comprado. Logo depois, pegou um dinheiro e partiu em direção ao clube.
Chegando lá viu que tinham instalado uma rampa para as pessoas escorregarem e depois caírem na água. Procurou um lugar para deixar suas coisas e foi para a água. Foi uma vez na dita rampa e gostou. Não deu outra: continuou a brincar na rampa sem parar.
Depois que ficou enjoada de subir as escadas e escorregar decidiu ir tomar um pouco de sol, pois, como qualquer mulher pensa, aquela marquinha de biquini daria aquela inveja nas amigas.
Passou o bronzeador, deitou-se no sol e lá ficou torrando. Às vezes, ela se virava para bronzear ambos os lados do corpo. Numa dessas trocas de lado chegou um rapaz de 20 e poucos anos. Sara ficou tão encantada com o rosto, com o jeito de falar, com a boca, com a barba por fazer do rapaz que nem prestou atenção no que ele dizia. Enquanto ele falava, ela sentia que tinha conhecido sua alma gêmea. O rapaz com o corpo perto do seu deu-lhe uma sensação de paz enorme. O rapaz se retirou e Sara acordou do encanto. Conhecera sua alma gêmea e foi tão rápido que nem ao menos tinha prestado atenção no que ele dissera, ela tinha a certeza de que ele fizera um convite mas que tipo de convite?Sara pegou suas coisas e saiu decidida a procurar pelo rapaz!

Uma história tão bobinha, mas tão leve. Que deu saudade. Daquele bobinho que nada sabia dessa coisa louca que a gente nomeia de vida.

domingo, 14 de março de 2010

Aos apaixonados - Rubem Alves

Quero compartilhar essa excelente crônica do Rubem Alves. Para quem tem medo de relacionamentos, vale a leitura. Para quem não tem, também.

Aos apaixonados - Rubem Alves

Dedico esta crônica aos apaixonados, mesmo sabendo que servirá para nada. É inútil falar aos apaixonados. Os apaixonados só ouvem poemas e canções. A paixão, experiência insuperável de prazer e alegria, pelo fato mesmo de ser uma experiência insuperável de prazer e alegria, coloca o apaixonado fora dos limites da razão. Todo apaixonado é tolo. Pode ser que ele escute a fala da razão. Escuta mas não acredita. Diz: "O meu caso é diferente!" Tolo mesmo é quem tenta argumentar com os apaixonados.

Começo minha inútil meditação com um verso terrível de T. S. Eliot. Ele está rezando. Ele sabe que somente Deus tem poder para lidar com a loucura da paixão. Ele reza assim: "...e livra-me da dor da paixão não satisfeita, e da dor muito maior da paixão satisfeita".

Todo mundo sabe que a paixão não satisfeita dói. Mas poucos sabem que a paixão só existe se não for satisfeita. A paixão é um desejo de posse que, para existir, não pode se realizar. Como a fome: depois do almoço a fome acaba...

Paixão é fome. Ela só floresce na ausência do objeto amado. Mais precisamente, ela vive da ausência do objeto amado. Não se trata de ausência física, o objeto amado distante, longe. A dor da ausência física tem o nome de saudade. Saudade tem cura. A saudade é curada quando o objeto volta. A dor da paixão é diferente. Não tem cura. A saudade do objeto amado, mesmo quando ele está presente, é o perfume característico da paixão. Cassiano Ricardo sabia disso e escreveu:

"Por que tenho saudade
de você, no retrato, ainda que o mais recente?
E por que um simples retrato,
mais que você, me comove, se você mesma está presente?"

Que coisa mais esquisita! Como pode ser isso? Como pode se sentir saudade de algo que está presente? A resposta é simples: a gente sente saudade de uma pessoa presente quando ela está se despedindo. Cecília Meireles, desenhando sua avó morta, a quem ela muito amava, disse: "Tu eras uma ausência que se demorava; uma despedida pronta a cumprir-se." Dirão: "É natural. A avó já era velhinha..." É verdade. Mas o que caracteriza o olhar apaixonado é que ele percebe, no rosto da pessoa amada, essa ausência que se anuncia e essa despedida pronta a cumprir-se. O apaixonado pensa que sua paixão tem a ver com o objeto. Ele não sabe que foi o seu olhar que o tornou encantado. Os poetas são pessoas apaixonadas pela vida. E a sua paixão faz com que ela, a vida, apareça sempre banhada por uma luz crepuscular. Rilke perguntava, sem esperanças de resposta: "Quem foi que assim nos fascinou para que tivéssemos um ar de despedida em tudo que fazemos?" É o olhar da pessoa apaixonada que cria a imagem do objeto da paixão. É sobre Cecília Meireles que o Drummond escreve. Mas sua descrição, eu creio, se aplicaria a todos os objetos da paixão:

Não me parecia criatura inquestionavelmente real; por mais que aferisse os traços de sua presença entre nós, restava-me a impressão de que ela não estava onde nós a víamos. Distância, exílio e viagem transpareciam no sorriso benevolente... que confirmava a irrealidade do indivíduo.

A dor da paixão não satisfeita é essa: o apaixonado deseja possuir o objeto do seu amor, mas ele escapa sempre. Por isso ele sofre. Movido pela dor, quer possuí-lo. Não sabe que, para que sua paixão continue a existir, é preciso que ele continue escapando sempre. A paixão só ama objetos livres como os pássaros em vôo.

"...e da dor muito maior da paixão satisfeita".

A dor da paixão não satisfeita é iluminada por uma alegria. O apaixonado vive na presença de que um dia ele possuirá o objeto da sua paixão. Mas a "dor muito maior" da paixão satisfeita não tem mais esperanças. O objeto se desfez. Ela vive na tristeza do objeto perdido.

Escrevi uma estória sobre isso. A Menina era apaixonada pelo Pássaro Encantado. Mas ela sofria porque o Pássaro era livre. O Pássaro Encantado era sempre uma ausência que se demorava, uma despedida pronta a cumprir-se. O Pássaro lhe disse que era preciso que fosse assim, para que eles continuassem apaixonados. Ele sabia que a paixão ama pássaros em vôo. Mas a Menina não acreditou. Prendeu-o numa gaiola.

Gaiola? Há as feitas com ferro e cadeados. Mas as mais sutis são feitas com desejos.

Esquisito o que vou dizer: a alma é uma biblioteca. Nela se encontram as estórias que amamos. Romeu e Julieta, Abelardo e Heloísa, O paciente inglês, As pontes de Madison, Amor nos tempos do cólera, A menina e o pássaro encantado. As estórias que amamos revelam a forma do nosso desejo. Delas, escolhemos uma. É a nossa gaiola. Gaiola na mão, saímos pela vida à procura do nosso Pássaro. Quando imaginamos havê-lo encontrado – que felicidade! Ficará feliz em nossa gaiola. Será o amante da nossa estória de amor: eu para você, você para mim... Nós o colocamos lá dentro e pedimos que nos cante canções de amor.

Acontece que o Pássaro também tinha a sua estória. E era outra. Todo Pássaro deseja voar. Ele bate suas asas contra as grades, suas penas perdem as cores e o seu canto se transforma em choro. E, de repente, ele se transforma. Não mais o reconhecemos. É um outro. Essa é a razão por que a dor da paixão satisfeita é muito maior.

Contada assim, a estória parece ter um vilão e uma vítima. A verdade é que os dois são vilões, os dois são vítimas. O desejo da gente é sempre engaiolar o outro e levá-lo pelos caminhos que são nossos. Isso vale para tudo: marido-mulher, pai-filha, mãe-filho, patrão-empregado, professor-aluno... Não admira que Sartre tenha dito que "o inferno é o outro".

Não haverá uma saída. Lembro-me de um pequeno poema de Pearls que sugere a possibilidade de uma relação sem gaiolas:

Eu sou eu.
Você é você.
Eu não estou neste mundo para atender
às suas expectativas.
E você não está neste mundo para atender
às minhas expectativas.
Eu faço a minha coisa.
Você faz a sua.
E quando nos encontramos,
é muito bom.

Rubem Alves, O amor que acende a lua, 1999.

sábado, 13 de março de 2010

O que nos define?

Currículo foi uma forma que encontramos para dizer quem somos, o que fizemos, e nossos prováveis interesses. Fazemos cursos, vamos a congressos, apresentamos trabalhos, entre tantas outras coisas que são passíveis de acrescentarem uma linha naquela folhinha mágica, que pode virar páginas e páginas, intermináveis...

Histórico escolar é outra coisa que é requisitada algumas vezes. Quanto maior o numero de conceitos A, melhor?! A questão é o quanto que aquele A realmente significa o que ele realmente é? E o que aquele C, que ninguém quer, realmente transmite? Aluno que não se envolveu com a cadeira, professor indisposto a de fato ensinar, falha na relação professor-aluno, problemas na vida pessoal no dia da avaliação, entre tantas outras coisas que o histórico escolar não revela. Ele somente revela um conceito obtido pelo aluno, enquanto ele teve uma vida inteira para dar conta.

Certamente que currículos, históricos, perfis em redes sociais dizem muito de nós. Não tem como negar isso. O problema é que as margens desses papéis estão bem definidas. O formulário dá espaço para poucas coisas. Tem muita coisa que fica dita pelo não dito. Há tantas coisas que ficam nas entrelinhas. E ninguém está interessado, muito menos quer saber, o que há nessas entrelinhas. E assim vamos delineando as margens que dizem quem somos...

A propósito, quem somos nós? Como a gente é o que a gente é? Nossos gostos, escolhas, currículos, estilos de vida nos definem? A complexidade faz parte da natureza humana e não há como negar esse fato. Gostar de sertanejo significa que eu sou uma má pessoa? Dançar funk e pagode é sinônimo de falta de classe? Ser de esquerda é melhor que ser de direita? Ser assim é melhor que ser assado? O que nos faz ser melhor um que os outros? As titulações? Quem dera! Existe tanta gente sem títulos, mas que vale por muita gente muito bem graduada por aí.

Julias, Joãos, Marias, Pedros, Paulos... Pessoas que sabem valorizar a vida, simplesmente vivendo. Não caindo numa busca desenfreada por títulos, o que cá entre nós é bastante angustiante. Ficar o tempo inteiro procurando por mais e mais ostentações só gera cansaço. Faz mal pro ego ficar numa busca incansável por algo que nunca será encontrado. Afinal, quando se alcança um objetivo, logo vem outra meta para ser alcançada. E o processo todo é recorrente.

Bom mesmo é se dar conta da imensidão que somos. O preço da liberdade que temos em ser o que a gente quiser ser. Um adulto que gosta de quadrinhos, não te impede de ser um bom namorado. Uma mulher que coleciona bonecas não te impede de ser uma boa mãe. Gostar de alguém do mesmo sexo não te impede de ser um bom filho. Ter falhas não te impede de ser uma pessoa de sucesso. Existem várias maneiras de ser e estar no mundo. Descubra a sua, nunca esquecendo de se divertir sempre.

quarta-feira, 10 de março de 2010

A arte do apego.

Não me lembro quando foi que conheci a dita arte do desapego. Quando isso aconteceu, achei simplesmente demais. Talvez tenha sido numa comunidade do orkut, ou em um ppt que dizia que era preciso se livrar de certas coisas para ceder espaço para que coisas novas entrem na nossa vida. Isso é um tanto óbvio, mas nem por isso é preciso sair jogando todas as tuas coisas fora, não? Muito menos não se apegar às pessoas.

Atualmente vivemos em era totalmente virtualizada, e isso atravessa diretamente a forma como nos relacionamos - vide toda a infinidade de redes sociais existentes. Para iniciar uma relação, adicionar. Para terminar, deletar. Tudo é rápido, instantâneo e mutável.

Além disso, as possibilidades para mudança são infinitas. Imagine você estar em uma festa e ter que desperdiçar aquela mina porque a patroa está ao lado? O ideal seria estar solteiro disponível para o que der e vier. Na tentativa de querer ter todas as possibilidades, acabamos criando a arte do desapego. Com isso, acabamos deixando de estabelecer vínculos um tanto mais profundos.

Tememos esses vínculos porque aprendemos a não perder. Tudo tem que render lucros, prazeres e histórias para serem contadas. Por mais que todos nossos afetos um dia partirão, seja lá qual a forma. Desde por livre espontânea vontade até a forma mais bruta de perder alguém que é a morte. Com medo de um dia sofrer, acabamos optando por deixar todos livres e nos mantermos livres. Todo mundo em constante movimento. A direção não interessa. O importante é o estar no constante ir-e-vir.

Então a nossa vida acaba carecendo de um sentido que são dados por nossos afetos. Por mais decepções que eles possam a vir nos causar, também haverão alegrias. Por mais altos e baixos que ocorram por conta deles, uma vida totalmente linear algumas vezes perde a graça. Apegue-se à tua família, mesmo que ela faça certas cobranças pensando no que ela acha melhor para ti, mesmo que tu saibas o que é melhor para ti. Apegue-se aos teus amigos, apesar de todas as possíveis divergências. Apegue-se àquela paixão, que realmente valha a pena, e transforme-a em amor. Apegue-se, viva, chore, ria. Não é porque o final é triste que o filme não valeu a pena. Perca o medo também, nem sempre o final é triste.

Sim, algumas das idéias defendidas aqui são um reflexo de algumas leituras do Bauman. (:

sexta-feira, 5 de março de 2010

viciados em drama.

“Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade.” Clarice Lispector
Esses dias fui tomado de uma reflexão, e cheguei a conclusão de que gosto de histórias com final triste. Sabe aqueles dramalhões que no final ninguém fica com ninguém, tudo dá errado, e por aí vai? Depois de chegarmos à conclusão de que Felizes Para Sempre não existe, achamos que essas histórias opostas ao happy ending é que são veriditicas. No fundo, felizes para sempre não existe, mas que infelizes para sempre também não. A felicidade é uma questão de instantes. Hora sim, hora não.

Porém, quantas vezes estamos a um passo de nos proporcionarmos um momento de alegria, e recuamos. Pode ser que nem nos damos conta desse sabotamento, mas ele acontece. Seria um instinto masoquista? Para que ser feliz, se eu posso sofrer? Herança do cristianismo que nos diz que sofrendo nessa vida, teremos o paraíso? Não sei, mas sem se dar conta, a gente vai lá. Melhor a gente não vai lá, porque chegar lá é sinônimo de ser feliz.

Recordo de uma cena de Desperate Housewives, em que Susan Mayer percorre uma trilha à procura de Mike Delfino. A mulher que a acompanhava disse a ela uma singela frase: “Você não saber ser feliz. Você é uma viciada em drama. Quando não há drama, você o cria. [...] Porque você não sabe como somente ser feliz.”

E porque somente ser feliz? É tão mais cômodo ser infeliz, ficar sofrendo e se remoendo. Choveriam exemplos de pessoas que se sabotam, e adiam momentos que tragam satisfação. É aquela menina sonhadora com um amor eterno e verdadeiro, mas que decide sair com um homem que logo de cara fala que é galinha. É aquele pai de família que pretende passar mais momentos com a família, o que lhe traz alegria, mas que vive pegando mais e mais trabalho para fazer. É aquele bônus que veio no fim do mês, e poderia dar mais conforto para a casa, mas vai direto para a poupança, como se nunca tivesse existido.

Às vezes, nos sabotamos sem se darmos conta. Pensamos de um jeito, agimos da maneira oposta. Talvez essa seja a forma de continuar na batalha. Se a batalha chegar ao fim, a guerra termina, saímos vitoriosos e agraciados com todos méritos. Talvez ficar sofrendo seja uma forma que encontramos de nos manter jogando. A questão é que a gente não é feliz, mas sim está feliz. Ou seja, por mais que adiamos um momento feliz agora, não seremos felizes para todo e sempre.
E se, de repente, a gente não sentisse a dor que a gente finge e sente? (Chico Buarque)
Como ser SÓ feliz? Sem criar dramas? Às vezes, a dor é tão prazerosa. E tudo o que dá prazer pode ser viciante, e aí começam os problemas. Ninguém nasceu pra ser mártir, muito menos para sofrer, ainda que existam alguns ensinamentos totalmente necessários de ser aprendidos e o único sentimento capaz de ensinar é a dor. Porém, da mesma maneira que felizes para sempre é uma utopia, sofrer sempre também é um martírio. Permitir-se! Dar-se o direito! De só ser feliz, e agora!

segunda-feira, 1 de março de 2010

aos poucos, ele vem chegando.


A primeira mudança começa com um ato quase nacional. O ajuste de relógios para o fim do horário de verão. Gesto simples, mas que já nos avisa que vai começar a escurecer uma hora mais cedo. Depois disso, a terra e o sol girando, girando e girando vão fazendo com que os dias se tornem cada vez mais curtos. Tu começas a reparar esse fato ao notar a partir da entrada do sol matinal no teu quarto que já não é mais na mesma direção que vinha sendo até então.

Junto com isso, começa a vir o frio. Foi semana passada que alteramos o horário. Foi semana passada que fomos agraciados com uma frente fria que veio da Argentina. O calorão deu uma amenizada. Não que não seja mais calor. Ainda é, mas dá para usar uma calça tranqüilamente. Sem medo de suar.

E a janela, sempre aberta para não sufocar entre tanto calor? Agora ela permite a entrada daquele ventinho que convoca o uso de um edredom, já que falta alguém próximo para abraçar e esquentar e dar o carinho de que tanto prescindimos. Ou que tanto queremos. E todas essa sensações com a chegada do frio misturam-se com uma nostalgia. Daquele rolo que poderia ter sido, mas não foi. O número ainda está lá na agenda; o recado, na página do Orkut; e a mensagem ficou para ser deletada, mas. O fantasma preenche mais que a pessoa que estava ao seu lado até ontem. E olha que cronologicamente esse ontem faz muito tempo que passou.

Na falta de alguém, vasculhamos nossos armários em busca de um casaquinho. Ou não, ficamos assim mesmo, vivenciando um friozinho amigo. Porque sentir o frio desse jeito não tem preço, mesmo que segundos depois venha uma série de espirros. Como se quisessem avisar “te agasalha, se não vem gripe”. Dane-se, não perco esse calor com vento fresco por nada.

A temperatura beira a um ideal, nem muito quente, nem muito frio. Mas que vai se tornar um frio que castiga. Enquanto o forte dele não chega, começamos as trocas. As bermudas pelas calças. Só camiseta por moleton, casaco, cachecol. Os sucos e frutas por brigadeiros e carboidratos. O champagne pelo vinho. A boate de todo final de semana por um programa mais reservado em casa. O caso rápido e festeiro do verão para uma troca de telefonemas que pode vir a ser. Outra noite, um cinema, uma transa, um affair.

E seguimos em frente, porque viver é isso. Depois do outono, vem o inverno. Reclusos, com nossos medos e fantasmas, hibernamos, fugindo do frio e dos perigos desse mundo. Um dia chega a primavera e começa tudo de novo. Porque a vida é dessas: cíclica!

sábado, 27 de fevereiro de 2010

do sentido da vida.



dias desses, após a notícia de suícidio do alexandre mcqueen, falaram assim: eu ainda vou entender o porquê de as pessoas cometerem suícidio. a minha pergunta dói mais. por isso, é mais angustiante: por que é que a gente tá vivo?

recorri ao leminski, que me disse o que eu já sabia:

"esta vida é uma viagem
pena eu estar
só de passagem"

em meio à chuva, e aos prantos, apertei o player do cd, e me encontrei na voz da paula toller.

Eu perco o sono e choro
Sei que quase desespero
Mas não sei por quê

A noite é muito longa,
Eu sou capaz de certas coisas
Que eu não quis fazer.
Será que alguma coisa,
Nisso tudo, faz sentido?
A vida é sempre um risco,
Eu tenho medo do perigo.

Lágrimas e chuva
Molham o vidro da janela
Mas ninguém me vê
O mundo é muito injusto
Eu dou plantão nos meus problemas
Que eu quero esquecer

Será que existe alguém
Ou algum motivo importante
Que justifique a vida
Ou pelo menos este instante

Eu vou contando as horas
E fico ouvindo passos
Quem sabe o fim da história
De mil e uma noites
De suspense no meu quarto

[grifos meus.]

e por mais que esse post esteja com um tom meio depressivo, lá no fundo, bem no fundo, algo grita que a vida vale a pena, apesar de todos os pesares. mesmo que do pó vieste, e ao pó voltarás.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Ela e as outras.

Ela. Portadora de um grande senso de humor, inteligente, simpática, sociável e digna de se ter uma amizade. Um porém: encalhada. Sua vida só não é uma piada porque só seria cômica, se não fosse trágica. “Não quero me amarrar”, “Só quero me dedicar aos estudos”e “Adoro minhas amigas” sempre surgem em sua fala na vida cotidiana. Três fases que dizem muito: seu horror a compromissos, a consciência de que não precisa do príncipe encantado para se divertir, além de seus vários projetos na vida profissional. Se ela não pensa em compromissos, sua mãe não vê a hora em que a filha se aquiete, crie juízo e seja igual a todas as outras.

As outras. Aquelas que, ao escolherem o amor e a dedicação, tiveram como destino pilotar fogões, planejando a rotina da casa dia por dia, criando filho por filho. E, para o kit ficar completo, aguentando aquele, sim, aquele a quem elas juraram compromisso até a hora da morte.

Ela. Numa corrida desesperada atrás de si, acabou se descobrindo. Sua personalidade, suas características, suas qualidades e seus defeitos. Conhecer quem ela era garantiu-lhe saber até onde e o quão fundo poderia pisar. Então, com medo de se machucar, entregou-se totalmente raras vezes. Mal conhecia e já pulava fora, tamanho o medo de decepções futuras. Ela não sabia que a vida era isso mesmo, e só vence quem não se deixa abalar por elas. Sua vida tinha um colorido especial, mas ela não sabia do colorido que poderia ter. O tom azul céu às vezes aparecia. Era necessário mais rosa, mais vermelho. Mas o medo existia. Ela nem sabia, não tinha ciência da razão pela qual não havia se entregue ao amor ainda.

As outras queria sua independência e sua autonomia. Ela, a solteirona, devassa, pecadora... Ela que só queria saber de curtir a vida. Simplesmente viver, sem ligar para conseqüências. Conseqüências que as outras amarguravam até hoje. Em nome do amor pelo amado e pelos filhos, as outras se esqueceram de lembrar-se um pouco de si. Entretanto, sua vida tem outro colorido. O do afeto, preenchido por outrens, seja com amor, seja com dor.

Ela, aquela, enquanto isso, devido ao tempo que tem disponível, preenche com o que a diverte: arte, festas, amigas e uns pretendentes de vez em quando. Ela que deitava a cabeça e sentia que não era de ninguém, além de si mesma. E sentia um vazio e morria de inveja das outras, deitadas e acompanhadas. Ela que desfilava, jogando na cara sua total liberdade. Ela que não sabia que havia uma parte em si que só desejava ser amada.

Ela e as outras. Cada uma vivendo em seu mundo. Cada uma com suas escolhas. Cada uma pagando seu preço. Cada uma pagando com a sua moeda.

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a quem interessar possa, habilitei os comentários para quem tem conta google. o comentário de vocês me interessa muito sim. tá?

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Das coisas que eu não entendo.

Infelizmente, sou do tipo que assiste a filmes, um (se não dois ou mais) anos depois do seu lançamento. A questão é que assisti Marley e Eu. O filme, como provavelmente todos devem saber, conta a história de um casal, que depois vira família, e as peripécias de seu cachorro. Em todos momentos da vida deles, o cachorro estava lá. Seja quando as pessoas estavam tristes, seja quando elas se irritavam por causa do cachorro que não tinha um temperamento lá muito fácil.

Saindo dos detalhes da história, e chegando a uma das questões do filme: o amor. Esse sentimento incondicional por outrem. Nesse caso, um cachorro. Dá para se afirmar que é a coisa mais natural do mundo ter um animal de estimação. Eles nos recebem quando chegamos em casa, nos dão carinho (da forma deles, é claro), não brigam, não contestam nossas opiniões e vão estar do nosso lado o tempo inteiro. Dizem que o cão é o melhor amigo do homem. Não sei, nunca tive um. O máximo que tive de cachorros foi um trauma, que não vem ao caso.

Os sentimentos que nutrimos pelos animais de estimação às vezes supera os que temos por seres humanos. Seres vis, que vira e mexe nos decepcionam. Que depois de anos de dedicação, vão embora. Que terminam uma relação, pela qual tu batalhaste por anos. Que dizem, e depois desdizem. Que fazem tantas coisas. Esse amor excessivo pelos animais me é chocante, e ao mesmo tempo é tão do humano. Quando penso que tem muita pessoa perdida por aí que está em péssimas condições, sem ter um prato de arroz para comer, enquanto muitos animais são tratados com frutas e outras tantas regalias. Quanta gente sem ter o que vestir, e aquele poodle com um modelito exclusivo. Definitivamente, não dá para explicar. Sentimentos não se traduzem em palavras, simplesmente são sentidos. E são uma coisa louca, insana. É óbvio dizer, mas as emoções são totalmente sem razão.

Vão me apedrejar e dizer: tu falas isso, por não ter animais de estimação. Talvez sim, talvez não. Apesar de tantas bárbaries que o humano cometa, eu tento não perder a fé nele. Nem sempre é viável, mas a gente tenta. Tenta porque é humano também.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Um ano depois de um amor no verão


E eu, volto aqui, um ano depois para falar ainda sobre o status daquela menina. Aquela que contei a história no Chicle Clichê. O quanto uma pessoa muda depois de um ano? Ou melhor, o quanto traumatizada uma pessoa pode ficar após um ano? E pior, um simples acontecimento pode causar um trauma tão grande? Para essa menina, que se queixa até hoje, são questões que a atormentam. É, minha cara, não desista de tentar, embora já saiba o quão difícil são as coisas. Que o medo de ficar sozinha, não te faça se afastar das pessoas. Não me pergunta se vale a pena seguir em frente, mesmo sabendo que um dia as coisas possam vir a acabar. A vida é isso. E, sim, tu sabes que tem que começar a entender que por mais que uma história tenha tido um desfecho triste não significa que ela não tenha valido a pena. Esse teu coração anda agoniado, com medo, mas um dia ele vai ter as respostas para essas perguntas que o mobilizam. Tudo a seu tempo. Não na velocidade que a gente deseja, mas na velocidade que as coisas devem ser. Ah, antes que eu me esqueça, não é construindo muros que tu não vais se machucar. Isso só vai afastar as pessoas, e, consequentemente, não te fará viver uma vida que tenha valido a pena.

Para ouvir lendo:


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Vai passar, tu sabes que vai passar.

Sou do tipo de pessoa que acha que o que é bom deve ser compartilhado. Esse texto é ideal para aqueles momentos em que tudo que a gente precisa é de um ombro amigo, uma vez que não há o que fazer a não ser esperar. Infelizmente o mundo não anda no nosso ritmo. Mas às vezes, a gente não anda no ritmo do mundo.

Claro que o texto tinha que ser do Caio Fernando Abreu. Ia grifar uns trechos, mas fiquei com preguiça. Talvez o faça depois.

Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada “impulso vital”. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como “estou contente outra vez”. Ou simplesmente “continuo”, porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como “sempre” ou “nunca”. Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como “não resistirei” por outras mais mansas, como “sei que vai passar”. Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.
Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de “uma ausência”. E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços.
Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça.
Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa.
Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim:
- … mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca …

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Vem de dentro, sai para fora

Chegou, cumprimentou e correu para o divã. Desatou a falar, com um desespero que lhe era habitual:

- Seguinte, acho que hoje é nossa última sessão. Decidi me mudar. Não sei para onde, até porque não tenho nenhum lugar para me ancorar, mas tenho pensando em São Paulo. Cidade mexe com a cabeça da gente. Deixa a gente de um jeito louco. Melhor, permite a gente ser insano sem ter problema algum com isso. Porquê de eu ter tomado essa decisão? Cansei, cansei dessa cidade. Tudo o que eu tinha para descobrir, eu já descobri. Eu quero viver de novo aquelas sensações de descobrir um mundo que se oferece ali, bem embaixo do meu nariz. Cansei de ir às mesmas festas, ver as mesmas pessoas e ter as mesmas sensações. Faz tempo que não chego em casa eufórica. Rindo e chocada, ao mesmo tempo, com os acontecimentos da festa. Não quero ficar eufórica, e achando tudo lindo e maravilho. Nunca tive essa pretensão, nem quero ter. Mas queria ficar com aquela sensação.

Como assim, não adianta eu fugir que todos esses fantasmas vão fugir comigo?! Grande merda, se for assim. Vou ir pra São Paulo, e depois quererei ir para New York, Paris. E de galho em galho, eu vou pular. Triste vai ser quando eu chegar à velhice, e me dar conta de que não terei me fixado em nenhum lugar. Em compensação, terei vivido intensamente, se é que assim posso dizer. Sim, é meu jeito de ser assim. Conquistar coisas não é problema para mim, difícil é manter. Custa-me um preço muito caro manter as coisas. Eu entendo que é preciso perder um pouco da liberdade e se apegar às coisas. Viver é isso. Ir fazendo concessões o tempo inteiro. Em nome dos sentimentos ir se sacrificando. Tem coisa mais louca que isso? Daqui um pouco eu vou esquecer de mim, por conta de um terceiro. Mas, o preço é alto. Para que mandar alguma coisa ao concerto, quando eu posso muito bem comprar um novo?

É, infelizmente, não poderei nascer novamente, mas quem sabe eu possa me reinventar? Tava pensando em cortar o cabelo. Comprar umas roupas novas. Dar um alô pro Guilherme, e parar de escapar como uma ex-presidiária dele. Quem sabe pinta um rolo, e volta o colorido. Não sei. Talvez eu possa fazer um curso de fotografia, ou de culinária. Eu deveria mesmo é cuidar desse corpo, mas tenho horror à ideia de ir à academia. Talvez isso seja outra coisa que deva mudar.

Sim, sim, nos vemos na próxima sessão – e sorriu.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Oxigênio, amigos, dinheiro e carinho

Querido Renato,

Estou te escrevendo porque sei que tu me compreendes bem, tanto quanto um analista, mas não cobra para tanto. Ultimamente tenho sentido tantas necessidades.

Ando precisando de oxigênio. Tô meio sufocada, sabe. Viver sufoca a gente. Dizem que a intensidade da tua vida é medida pela quantidade de vezes que te faltou o ar. A minha deve estar sendo bem intensa. Me acordo no meio da noite, com uma falta de ar. Vou ser asfixiada por alguns amores, mas acho que mais pelas dores e assemelhados. Talvez tudo seja uma puta besteira e eu seja uma típica rainha do drama. Mas vem cá, por ser drama, não tem fundamento?

Tô precisando de amigos também, Renato. Do tipo da nossa amizade, parceria mesmo. Seja pra ficar discutindo essa coisa louca que é viver, seja pra ir em qualquer bar beber, ou até mesmo pra ir vezenquando nas nossas dançantes noites. Com qualquer grupo de amigos, me sinto deslocada. As gurias tu sabes como andam: só sabem falar sobre roupas & grifes, e sobre a dificuldade de manter essas compras. Às vezes, falam sobre homens. E como tu bem, sabes, ando tão complexada que prefiro nem tocar nesses assuntos. Tem a galera lá do trabalho também, mas não me sinto confortável. Sou falha, e não perfeita. E aquilo, vira uma guerra fria, que socorro!

E dinheiro... Esse desgraçado que destrói tantas coisas. Destrói quando tu não o tem para poder construir. A gente vai sobrevivendo mês a mês. Quando dá, faz uns bicos para ter um pouquinho a mais no final do mês. Queria tanto dar uma ajeitada aqui em casa, decorar mais e melhor, comprar umas roupas novas e uns livros. Queria viajar também, tô precisando sair de mim mesma, me permitir cometer essas loucurazinhas que a gente só se permite se estiver em viagem. Dizem que dinheiro não traz felicidade, mas traz conforto. E isso é o que tô precisando agora. Às vezes, me permito uns luxozinhos básicos. Ontem mesmo tomei uma garrafa de Chardonnay, mas, por conta disso, nem almocei. Louca e insana, essa tua amiga.

Sem dinheiro, sem amor: totalmente fudida, cara. Não tem noção do quanto tô precisando de carinho. Sexo a gente faz, e faz muito bem. Quando quer, com quem quiser. O problema é quando a gente acorda no outro dia, e dá aquela vontade de ficar conversando sobre as coisas da vida, mas tu sabes como é. Não rola. Quase sempre me sinto meio carente, meio doente por um afago do tipo de mãe quando cuida da gente. E é difícil de encontrar uma mão que acaricia. Geralmente, elas vem curtas, rápidas e pesadas como um tapa.

Te disse né? Preciso de oxigênio, preciso ter amigos, preciso ter dinheiro, preciso de carinho. Me escreve que muito preciso das tuas palavras.

Sempre tua,

Maria Clara.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Obcecado, eu?

Uma amiga leitora me escreveu dizendo que a minha obsessão por relacionamentos, que atravessa grande parte dos posts desse blog, a irrita. E de fato essa obsessão me intriga há muito. Talvez hoje eu deva falar de mim. Ou seria da minha obsessão?

Não sei quando, nem como ela começou. Pode ter sido no jardim da infância quando as professoras contavam as lindas (ou, por terem deixados marcas profundas, seriam elas terríveis?) histórias dos contos de fadas. Ou foi na adolescência em que eu ouvi muita música pop que cantava o amor idealizado? Talvez tenha sido na adolescência quando alugava de três a quatro comédias românticas, e esse era o meu final de semana.

É tanta teoria que impede a prática de ser vivida. A idealização de alguém que virá para completar o que supostamente está faltando só acaba com uma possível vida amorosa por vir. Lembro de uma frase de Samantha Jones, Sex and the City, que ela disse que mesmo estando com um homem, ela se sente sozinha. Buscar alguém para tapar um buraco, é só se deparar mais ainda com ele, uma vez que ninguém o tapará, nos completando dessa forma. Metade da laranja só funciona com laranja. Além disso, ficar procurando o tempo inteiro a alma gêmea é uma das maiores furadas em que podemos nos meter.

Outro erro é o de achar que se a nossa vida amorosa estiver bem, tudo estará. Isso veio de Will and Grace, em uma cena que eles analisam os diversos aspectos da vida e todos estavam muito bem, obrigado. Exceto a vida amorosa, o que os fez proferir uma enganosa frase: Se a vida amorosa não está bem, a vida não está bem. Ter amigos, realizar-se no trabalho, ter uma família, e ter uma saúde boa não contam na multiplicação cujo resultado é a felicidade. A ausência do amor implica na presença do número zero, o que anula toda multiplicação, nos condenando à infelicidade?

Por mais que o tema me intrigue, não existe receita para encontrar um amor. Muito menos, a nossa felicidade deve ser depositada única e exclusivamente em cima de uma pessoa. Talvez tudo o que eu tenha escrito sobre o amor é pura bobagem, pura besteira... Mas lembro-me de uma frase do Norman Mailer, usada pela Martha em uma de suas crônicas, "As pessoas procuram o amor como solução para seus problemas, quando o amor é a recompensa por você ter resolvido seus problemas”. Alguém tem o telefone de um bom analista?

oPS: vou tentar parar de falar somente sobre relacionamentos. (:

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

o jeito certo

Às vezes, a gente encontra algo que diz tanto. Tem coisas que a gente já sabe, mas precisa constantemente que os outros nos lembrem. Li, e somente sorri.
"Não tenha medo, menino. Você vai encontrar um jeito certo, embora não exista o jeito certo. Mas você vai encontrar o seu jeito, e é ele que importa. Se você souber segurar, pode até ser bonito." Caio Fernando Abreu. O essencial da década de 1980.


quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

tudo ao mesmo tempo agora

passado presente futuro frustrações planos sonhos afetos família amores amigos carreira profissão trabalho drama sensações historias de vida amor sexo carne espirito artigos livros poemas crônicas astrologia incensos análises projetos festas shows teatro música casa cama mesa e banho roupas agenda horários dinheiro orçamento pagamentos correspondências filmes seriados novelas solidão sozinho medo de amar aflição conhecimento fotografia psicologia telefone numero mensagem twitter orkut msn e-mail mercado metáforas ironia interior cidade bordas rolos bolos bafos desabafos ambivalências discussões debates visitas bebidas álcool verdades insanidade post's blog escritos clarice caio drummond quintana foucault freud viagens capricornio aries sagitario ciencia clássico contemporâneo sonhador revolucionário café comidas receitas pré-prontos dinheiro dúvidas questões angústias não-soluções sono café brigadeiro falta controle poder praticidade mobilidade eles nos tu eu

assim mesmo, sem pontuação. tudo intenso, transbordando concomitantemente.

sábado, 16 de janeiro de 2010

medos

querer o sim e não se acostumar
com a solidão, o medo de amar
(Vem pra cá - Papas da Língua)
Assisti ao filme 500 dias com ela, um filme perfeito, excelente para pensar em várias coisas sobre o amor. Summer, a protagonista do filme, não acreditava em amor, enquanto que Tom cresceu acreditando desde cedo que existe “a” pessoa. A história é uma história, com momentos alegres e momentos tristes. Além disso, há algo que aparece no filme, e é muito presente na nossa realidade: o medo de se machucar.

Amar alguém pressupõe entrega. Às vezes, nos consideramos muitos valiosos para sermos entregues alguém. Às vezes, temos tanto medo de se machucar que não nos entregamos. Algumas vezes pode ser puro drama, outras vezes pode ter até ter fundamento. Lembrei da história de uma conhecida que conheceu um cara, começou a sair com ele, tava se divertindo, curtindo bons momentos. Porém, chegou um ponto em que ela não sabia o que fazer, pois por mais que o cara estivesse sendo legal, ela não queria se envolver porque ela sabia que ia se machucar. Sendo assim, sempre nos machucaremos? Obviamente que não, mas temos horror a isso.

No campo afetivo, temos dois medos que convivem conjuntamente na vida de uma pessoa: o medo de ficar só e o medo de se machucar. O primeiro nem precisa de explicação. O ser humano nasceu graças à sociabilidade, cresce dentro de um meio social, aprende a ter necessidades que foram construídas socialmente. Já o medo de se machucar aparece o tempo inteiro em pessoas que insistem em se manter solteiras. A sua forma de relacionar-se apresenta pontos limites, em que chega um momento em que eles decidem cair fora, porque cair dentro é equivalente a despencar de um precipício.

E se nos machucarmos, podemos seguir em frente? Mesmo com tantas decepções, possuímos forças para se apaixonar novamente? E é possível dar uma segunda chance a alguém que nos fez chorar tanto? Perguntas... Infelizmente não existem respostas prontas para essas perguntas. Respostas que se encontram no coração. Tudo é uma questão de seguir o que se sente e ir pelo caminho que isso indica.

Parabéns ao filme que mostra que mesmo ao se machucar não devemos perder a fé no amor.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A mulher ruiva

A mulher ruiva é complexa. Se ela não nasceu com o cabelo vermelho, ela pinta. Pinta para mostrar fora o que tem dentro dela: um vulcão em erupção. Pronto para explodir. Pronto para dizer que dentro desse corpo bate forte um coração. A mulher ruiva tem dentro de si um pouco do mundo. Tem angustia, decepções, sonhos, amores, dores.

A mulher ruiva é determinada. Luta pelo que quer, independentemente do que vier. Sendo desse jeito, é óbvio que assusta os homens. Só sendo muito macho para agüentar a mulher ruiva. Para agüentar uma mulher de peito. Que preenche seu tempo livre com arte, literatura, exposições, cinema, música. Todas essas coisas que só reforçam seu estilo de ser, e que só mantém o fogo aceso.

A mulher ruiva acredita em príncipes encantados. Embora saiba que vive na realidade, e ele não pulará dos livros. Sabe que sua vida amorosa não é um conto de fadas. Pode ou não saber que, em partes, é sua culpa. Ela não deixou ninguém interferir em sua vida. Não abriu mão de nada por ninguém. O amor só sobrevive à base de concessões. E isso ela esqueceu de aprender.

Enquanto a morena é para casar, tantas decepções amorosas fazem parte do currículo da mulher ruiva que ela não sabe se o casamento foi feito para ela. Enquanto a loira faz as cabeças dos homens, a mulher ruiva faz questão de não ser somente um casinho passageiro na vida desses canalhas. A mulher ruiva só está sozinha por ser exigente demais. Está sozinha porque descobriu em si sua melhor companhia.

A mulher ruiva é como um palito de fósforo. Se você quiser, ele pode criar fogo. Se você quiser, ela pode queimar tudo. No fundo, ela é só uma menininha frágil que tenta se proteger de tudo. Tão frágil e com tanto medo de se quebrar que ela se tornou ruiva. A mulher ruiva não é só a cor de seu cabelo, é um estado de espírito. Ela é você. Ela sou eu. Existem várias espalhadas por aí.

sábado, 9 de janeiro de 2010

pegando o andar da fila

E, aí, meu, quantas minas tu pegou ontem?”Sinto uma ligeira incomodação ao ouvir a palavra pegar. Quem fala, nem se dá conta do que está falando. De uso corriqueiro e habitual, pegar é proferida o tempo inteiro.

O que ela esconde por trás? A idéia de que somos objetos para sermos pegados, usados e largados. Simples assim: me pega, me usa e me abusa. Ela encontra suporte nas raízes do machismo, em que a mulher nada mais é que um objeto a serviço do homem. Quem pega é o homem. Mulher não pega, mulher é pegada.

Algumas pessoas podem ter até uma certa facilidade de pegar e não se apegar. Porém, cedo ou tarde, uma hora acontece, essas pessoas vão se apegar. Apegar entra aqui como desenvolver algum tipo de afeto por outrem. Afeto este que não se desenvolve só com um mero pegar.

Parece que o pegar encontra ecos em outra frase muito utilizado também: A fila anda. Vem rolo, vai rolo e a fila anda. Não sei se alguém parou para pensar no significado dessa frase, mas ela dá a idéia de que somos uma máquina. Você escolhe uma opção, obtém a prestação de serviço, e voilá próximo da fila!

São palavras e frases que dizem muito da forma de relacionar-se na contemporaneidade. Tudo tem de ser rápido, com o máximo de eficácia (leia-se prazer), e de olho no próximo investimento. Ninguém está interessado em desenvolver algo mais forte, digno de ser chamado de amor. Tudo fica no plano da paixão.

Aí alguém levanta e grita: é, mas as avós de outrora tiveram de pagar um preço chamado de silencio muitas vezes para manter seus casamentos. Não defendo que isso seja bom, nem que a forma de se relacionar atual é ruim. Formas de existir, precisamos encontrar a nossa. Coloco fé nem em um extremo, nem em outro. Sempre tentando alcançar o meio termo – tarefa árdua.

sábado, 2 de janeiro de 2010

No fim, tudo dá certo

Em momentos difíceis, de muita luta e batalha pelos objetivos que pretendemos alcançar, a clássica frase sempre é proferida: tudo dá certo no fim; se ainda não deu, é porque não chegamos no fim. A frase dita, reconforta. Cai como remédio para aquela constante dor que carregamos. Desiludidos, necessitamos dessa frase para ganhar força e seguir em frente.

Seguir em frente é chegar no fim. Até que não dá certo, não paramos de tentar. Até não dar certo, não cessa nossa batalha. Durante o processo de chegar ao topo da montanha, muitas vezes nos resta o desânimo, já que temos a sensação de não sairmos do nível do mar.

Chegamos no alto da montanha, bingo! Sua felicidade está garantida. Tudo deu certo, chegamos ao fim. Porém, a vida é cíclica. A cada fim, um novo começo. Ao chegarmos no topo da montanha, somos agraciados com novas visões. Novos caminhos são vistos, novos planos são traçados.

A real mesmo é que a vida é cíclica. O fim de um ciclo é o início de outro. Chegar no fim de cada etapa é o que move nosso viver. Isso me lembra os contos de fadas, em que somos fadados a acreditar que um dia seremos felizes. Essas fantasias que servem para levarmos a vida em frente, mas que no fundo mesmo só nos fazem sofrer. Felizes para sempre... Para uma solteira, indefesa, desejante de um amor que a salvará, é obvio que casar com o príncipe encantando é ser feliz para sempre. Tendo essa pobre menina desencalhado, bingo, sua felicidade é infinita.

Entretanto, lá vem a vida, nos mostrando a batalha diária, que é manter um casamento, respeitar o outro, a nossa relação com ele, exigir seu espaço, fazer concessões... Tarefinhas nada fáceis para um feliz para sempre. No entanto, isso faz parte da vida. E a vida não para. Dessa forma, a cada conquista, desapontam novas possibilidades em nosso horizonte. O único fim que cessa esse processo é a morte.

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Aproveitando o cíclico da vida, decido começar mais um blog com o início de mais um ano.