sábado, 24 de abril de 2010

pode emoldurar?

navegando no acasos afortunados, fui brindado com um trecho que merece ser colocado nos textos para a vida.

O bom encontro é de dois...

"[...] O bom encontro é de dois, porque quando você caminha os passos do outro, aquilo que era pra ser um encontro deixa de ser encontro e passa a ser perseguição. Por mais que a gente queira, deseje, ame, pra que seja de verdade é preciso que o outro também venha...

É dar os nossos passos que nos cabem e esperar que o outro dê os passos que lhe cabem, em retorno. É fazer a nossa parte e esperar que a outra pessoa faça a parte dela, de volta. Mas nem sempre é assim...

Texto bobo. Mas é que a gente sofre quando tem as expectativas devastadas... Todo mundo sofre. Acho que o mais difícil é asumir nosso sofrimento com dignidade e reaprender a continuar da melhor forma que puder. Sem se desrespeitar, se humilhar ou perder o amor-próprio... sei lá. [...]"

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Cicatrizes

Machucados, cortes, cicatrizes. Marcas que se fazem no corpo durante essa coisa louca que é viver. Você se machuca e dependendo da gravidade você precisa de um remédio, de uns pontos e cirurgias. Após o machucado, vem o tempo que a gente deve evitar certas coisas a fim de obter uma melhor recuperação. Não fazer exercícios físicos, não comer determinados alimentos, não isso, não aquilo, restrições... Se for um corte na pele, é provável que a cicatriz apareça. Se for em algum órgão interno, meus conhecimentos médicos não permitem fazer tal afirmação, mas provavelmente deva ficar alguma cicatriz. A questão é que não as vemos como veríamos se fosse na pele.

Outra coisa que não vemos? Cicatrizes emocionais. Essas, carregamos por um longo tempo em nossa vida. Às vezes elas doem tanto que continuamos o resto da vida com a dor do corte que as causou. Ainda bem que nem sempre é assim. A gente se machuca, se recupera e aprende a lição. Se eu fizer isso novamente, me machucarei. No entanto, isso não descarta a possibilidade de nos machucarmos, já que o perigo atrai algumas vezes. E nem é preciso falar do plano emocional, vide jogadores de futebol que machucam e continuam jogando, isto é, correndo riscos.

O corpo humano deveria ser perfeito, mas não é. Câncer é a prova disso. Diante de um machucado, o corpo busca voltar à homeostase. Recuperar-se da ruptura que sofreu. Nós seres humanos temos um corpo, mas também somos assim em relação a nossa vida emocional. A vida deveria ser perfeita, mas não é. A infância não foi das melhores, o pai foi ausente, o marido trai, as pessoas mentem, trapaceiam... São coisas que acontecem e deixam suas marcas. Não falo no sentido negativo, de marca ruins, mas no sentido de que se o pai ou a mãe foram ausentes tentaremos suprir essa falta de outra maneira. A mulher é indiferente? Busca-se companhia fora de casa. Um amigo apronta, busca-se outros amigos para preencherem a nossa necessidade de afeto. Obvio que não vai ser a mesma coisa que se esse amigo estivesse ocupando esse espaço. É preciso viver e se dar conta de que as coisas são o que são, não idealizações que temos em nossas idéias. Aceitar a realidade tal qual ela é, e tentar modificar quando vemos que algo não anda tão bem.

Falhas, faltas, buracos, vazios. Se a vida fosse perfeita, não conheceríamos essas palavras. Se fossemos pobres coitados, não reagiríamos a tais desvios do percurso. Falando parece fácil e até soa bonito. Mas dói, incha, inflama, às vezes infecciona. E não existe remédio para curar esses sintomas. É o papo do poeta: a dor é inevitável, o sofrimento opcional. Devemos não acabar padecendo do sofrimento extremamente, mas também devemos entender que querer que certos machucados não doam é a mesma coisa que não querer que eles fiquem curados algum dia. A vida é um processo e a etapa subseqüente depende consideravelmente daquela em que nos encontramos agora.

Não sei quanto a vocês, mas eu espero estar me curando de uma ferida. Bem, a cicatriz? Faz parte de mim, e eu vou levá-la para o resto da vida, embora eu não sei o quão boa é a marca deixada.

[publicado originalmente no chiclé clichê em 21/07/09.
republiquei porque inventei de reler, e tem umas lições que eu sempre me esqueço.]

quarta-feira, 7 de abril de 2010

fragmentos foucaultianos.

"Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo".
___

"Se ao começar a escrever um livro, você soubesse o que irá dizer no final, acredita que teria coragem de escrevê-lo? O que vale para a escrita e para a relação amorosa vale também para a vida. Só vale a pena na medida em que se ignora como terminará.
(In: Foucault, Michel. Verdade, Poder e Si mesmo.)

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Ai, se eu tivesse!

Ai, se eu tivesse ouvido meus pais e não investisse nesse projeto. Agora eu não estaria cheio de dividas. Se eu fizesse o que eles recomendaram, talvez eu estaria rico.
Ai, se eu tivesse aceitado aquela proposta para trabalhar em outra cidade... Sair da casa dos pais é uma barra, mas eu acho que aguentaria. Não tenho um emprego ruim, mas não tenho perspectiva de crescimento profissional.
Ai, se eu tivesse ligado para ele, explicado o que me incomoda nele. Talvez a gente tivesse começado um relacionamento. Mas não, simplesmente não mandei mais noticias. Foi melhor assim. Será?
Ai, se eu tivesse engolido os defeitos dela. Hoje a gente estaria namorando. Quem sabe até casados, planejando comprar a nossa casa e ter filhos.
Ai, se eu tivesse feito meu doutorado no exterior. Maldita a hora em que tenho um marido e uma casa para cuidar. Se eu tivesse ido, hoje as minhas oportunidades profissionais seriam maiores e melhores.

A vida é feita de escolhas. Escolhemos e pagamos pelo preço do que escolhemos. Ao escolher fazer doutorado no exterior, a mulher poderia ter abandonado e quem sabe até arruinado um casamento que se consolidava mais a cada dia que passava. Ela poderia ter um titulo, mas poderia ficar solteira novamente. Qual a melhor opção? O que ela devia ter feito? Não existe melhor escolha. Cada escolha é única, as conseqüências idem. Se ela fizesse de um jeito, o desfecho seria condizente com sua escolha. Se ela fizesse de outro, idem.

Aí entra em questão os se da vida. Se eu tivesse feito assim e feito assado. Quando algo dá errado, o se aparece como possibilidade para pensar em um caminho diferente do real. Tarefa desgastante essa. Ficar pensando em um resultado diferente é ficar se culpando pelo resultado real. É ficar se autocondenando.

Se eu tivesse feito assado, não daria errado como deu assim. O erro deixa de ser erro, passando a ser aprendizado quando extraímos o ensinamento do fato ocorrido. Se eu não tivesse feito assado, eu não teria adquirido experiência por contra própria. Por mais que os outros digam, nos dando a teoria, a gente sempre aprende na prática, quebrando a cara.

[publicado originalmente no chiclê clichê em 12/03/09.]

[Des]Gostos em comum

Para qualquer tipo de relacionamento entre pessoas exista é necessário que ambas as partes tenham algo para compartilharem. Há quem diga que todos os seres humanos têm algo em comum. Ou seja, é possível começar uma relação, seja qual for a espécie, com qualquer pessoa que esteja próxima.

No entanto, quando eu vejo alguém falando de algo que eu também não gosto me traz uma sensação de alívio. Meu complexo de culpa por não gostar de determinada coisa ou pessoa se esvai na hora. Por mais que não possamos gostar de tudo, às vezes, achamos que o problema é só com a gente por não gostarmos disso ou daquilo. Então, aparece alguém com um desgosto em comum. O funcionamento do desgosto em comum, na verdade, é o mesmo do gosto em comum. Os dois são regidos pelo “em comum”. Apesar disso, o desgosto tem algo a mais: a extinção de um complexo de culpa por sentir que somente eu não gosto de tal coisa.

Outra situação reconfortante é quando encontramos uma pessoa na mesma situação em que nos encontramos. Saber que há outras pessoas com o mesmo problema, ameniza a intensidade do nosso. Talvez é por isso que às vezes compartilhamos nossos anseios, dúvidas e medos. Nessas horas vemos que não estamos sozinhos com nossas neuras e dúvidas. Além de ser em grupo que achamos, às vezes, uma solução para estas.

publicado originalmente no chiclé clichê, em 07/09/08.