sexta-feira, 2 de abril de 2010

Ai, se eu tivesse!

Ai, se eu tivesse ouvido meus pais e não investisse nesse projeto. Agora eu não estaria cheio de dividas. Se eu fizesse o que eles recomendaram, talvez eu estaria rico.
Ai, se eu tivesse aceitado aquela proposta para trabalhar em outra cidade... Sair da casa dos pais é uma barra, mas eu acho que aguentaria. Não tenho um emprego ruim, mas não tenho perspectiva de crescimento profissional.
Ai, se eu tivesse ligado para ele, explicado o que me incomoda nele. Talvez a gente tivesse começado um relacionamento. Mas não, simplesmente não mandei mais noticias. Foi melhor assim. Será?
Ai, se eu tivesse engolido os defeitos dela. Hoje a gente estaria namorando. Quem sabe até casados, planejando comprar a nossa casa e ter filhos.
Ai, se eu tivesse feito meu doutorado no exterior. Maldita a hora em que tenho um marido e uma casa para cuidar. Se eu tivesse ido, hoje as minhas oportunidades profissionais seriam maiores e melhores.

A vida é feita de escolhas. Escolhemos e pagamos pelo preço do que escolhemos. Ao escolher fazer doutorado no exterior, a mulher poderia ter abandonado e quem sabe até arruinado um casamento que se consolidava mais a cada dia que passava. Ela poderia ter um titulo, mas poderia ficar solteira novamente. Qual a melhor opção? O que ela devia ter feito? Não existe melhor escolha. Cada escolha é única, as conseqüências idem. Se ela fizesse de um jeito, o desfecho seria condizente com sua escolha. Se ela fizesse de outro, idem.

Aí entra em questão os se da vida. Se eu tivesse feito assim e feito assado. Quando algo dá errado, o se aparece como possibilidade para pensar em um caminho diferente do real. Tarefa desgastante essa. Ficar pensando em um resultado diferente é ficar se culpando pelo resultado real. É ficar se autocondenando.

Se eu tivesse feito assado, não daria errado como deu assim. O erro deixa de ser erro, passando a ser aprendizado quando extraímos o ensinamento do fato ocorrido. Se eu não tivesse feito assado, eu não teria adquirido experiência por contra própria. Por mais que os outros digam, nos dando a teoria, a gente sempre aprende na prática, quebrando a cara.

[publicado originalmente no chiclê clichê em 12/03/09.]

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