terça-feira, 10 de agosto de 2010

tempo [e espaço] que não volta.

Ontem as aulas reiniciaram. E eu me dei conta do quão mágico é estar na faculdade.
Aulas, conversas, ensino, bobagens, pesquisa, dores, extensão, desamores, conhecimentos, decepções... Amigos, colegas, professores... E sim, pessoas chatas e insuportáveis também, porque é da vida a presença delas aonde quer que formos. E é tão bom estar solteiro, se iludir e se decepcionar, ter milhões de trabalhos a fazer, ouvir sempre os mesmos discursinhos, ter colegas para dividir as angústias. E reclamar MUITO disso tudo, sabe? Que sempre tá ruim, pode piorar, que isso e que aquilo. A gente fode, mas se diverte - clichêzão, mas que se aplica a esse caso.
Não quero me formar, embora esteja correndo em um caminho oposto a essa afirmação.

No dia da formatura, faço birra e digo: Não quero mais brincar!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

porque metade de mim é amor e a outra metade também.

porque eu precisava compartilhar esse trecho com vocês. ele fala, grita, berra! e enquanto eu não consigo escrever o que prescindo, esse texto fala por mim.

24 de junho
Agora é noite, caro diário, e estou no terraço fora de casa observando o mar.

Está tudo tão calmo, quieto, suave; o calor atenua as ondas e sinto seu rumor distante, pacífico e delicado... A lua está um pouco escondida e parece me observar com um olhar de compaixão e indulgência.
Pergunto a ela o que devo fazer.
Ela me diz que é difícil extrair as incrustações do coração.
O meu coração... Eu não me lembrava que tinha um. Talvez nunca tenha sabido.

Uma cena comovente no cinema nunca me comoveu, uma canção intensa nunca me emocionou e no amor eu sempre acreditei pela metade, considerando que era impossível conhecê-lo de verdade. Mas eu nunca fui cínica, isso não. Simplesmente ninguém nunca me ensinou a expressar o amor que eu guardava dentro de mim, escondido, fechado para qualquer um. Mas ele estava em algum lugar, era só desentocálo... E eu procurei por ele projetando o meu desejo em um universo do qual o amor estava banido; e ninguém, ninguém mesmo, barrou minha passagem dizendo: "Não, menina, daqui não se pode passar."

E meu coração ficou trancafiado em uma cela gelada, e era perigoso destruí-la de um só golpe: o coração ficaria danificado para sempre.

Mas depois veio o sol, não esse sol siciliano que queima, que cospe fogo, que cria incêndios, mas um sol suave, discreto, generoso, que derrete o gelo devagar, evitando assim que a minha alma árida se inunde de repente.

No começo me pareceu que era obrigatório perguntar a ele quando é que a gente ia fazer amor, mas depois, no momento em que estava para perguntar, mordi os lábios. Ele entendeu que alguma coisa não andava bem e perguntou:
- O que houve, Melissa? - Ele me chama pelo meu nome, eu sou a pessoa, a
essência, não o objeto e o corpo.
Sacudi a cabeça:
- Nada, Claudio, nada mesmo.
Ele pegou a minha mão e a apoiou em seu peito.
Tomei fôlego e balbuciei:
- Bem, eu estava me perguntando quando é que você ia querer fazer amor...
Ele ficou em silêncio e eu morta de vergonha, sentindo a cara pegar fogo.
- Não, Melissa; não, tesouro... Não sou eu quem vai decidir quando é que a gente vai transar, a gente vai resolver junto, se e quando. Mas vamos ser sempre eu e você, juntos. Ele sorriu.
Eu olhava para ele estupefata e ele entendeu que meu olhar perdido era um pedido para que continuasse.
Porque, olha só... quando duas pessoas se unem, é o ápice da espiritualidade, e isso só aqueles que amam alcançam. É como se um turbilhão envolvesse os corpos e então nenhum dos dois é mais ele mesmo, um está dentro do outro da forma mais íntima, mais interior, mais bonita.

Ainda mais espantada, perguntei o que ele queria dizer com aquilo.
- Que eu te amo, Melissa - respondeu ele.
Por que esse homem conhece tão bem aquilo que para mim parecia até poucos dias atrás impossível de encontrar? Por que a vida me reservou até agora só maldade, sujeira, brutalidade? Esse ser extraordinário pode me estender a mão e me tirar da cova estreita e malcheirosa onde me escondi amedrontada... Lua, você acha que ele consegue?

As incrustações são difíceis de se tirar do coração. Mas talvez ele possa pulsar tanto que acabe rompendo em mil pedacinhos a couraça que o prende.

Retirado de 100 Escovadas Antes de Ir Para a Cama - Melissa Panarello.