sábado, 5 de março de 2011

sobre chaves e fechaduras.

Dias desses me peguei pensando nas chaves que ficam na minha estante. Desde que troquei a fechadura, elas se transformaram em um objeto sem utilidade. Mesmo assim, hesito em simplesmente jogá-las fora. No entanto, fico me perguntando sobre a utilidade delas e do espaço que elas ocupam na minha estante. O que se faz com uma chave que não tem mais utilidade?

A referência às chaves me fez pensar nas pessoas que já passaram pela minha vida, e que uma das coisas que temos em comum atualmente somente é um passado. Onde foi que a coisa desandou? Onde foi que nos desencontramos? Nada foi do jeito que já foi um dia. A única constante da vida é que estamos em constante movimento. Viver é modificar-se, e isso ocorre o tempo inteiro. Eu mudo, tu mudas, nós mudamos... Em um segundo, uma molécula rompe uma ligação, e se transforma... E um átomo encontra outro para fazer outra ligação, quem sabe até mais forte!

E o que se faz com o que se passou? Com quem passou? E quantas vezes buscamos quem éramos quando a ligação era com um átomo, e não com outro? Perguntas, perguntas... As respostas são muitas e podem variar de um extremo a outro. Talvez o que nos seja possível é criar novos sentidos para esses afetos. No caso das chaves, poderíamos pintá-las com uma outra cor, criando um artefato de decoração. Ou simplesmente jogá-las fora?

E sei que de nada adianta ficar preso às chaves sem utilidade. Para abrir novas portas, é necessário novas chaves. Para garantir a segurança, é necessário trocar a fechadura. Para avançar, tem que se abrir mão de algumas coisas. Mesmo trocando algumas chaves e fechaduras durante uma mudança, a porta daquele armário continuará sendo a mesma. Seja em uma casa, ou em outra.