quarta-feira, 10 de março de 2010

A arte do apego.

Não me lembro quando foi que conheci a dita arte do desapego. Quando isso aconteceu, achei simplesmente demais. Talvez tenha sido numa comunidade do orkut, ou em um ppt que dizia que era preciso se livrar de certas coisas para ceder espaço para que coisas novas entrem na nossa vida. Isso é um tanto óbvio, mas nem por isso é preciso sair jogando todas as tuas coisas fora, não? Muito menos não se apegar às pessoas.

Atualmente vivemos em era totalmente virtualizada, e isso atravessa diretamente a forma como nos relacionamos - vide toda a infinidade de redes sociais existentes. Para iniciar uma relação, adicionar. Para terminar, deletar. Tudo é rápido, instantâneo e mutável.

Além disso, as possibilidades para mudança são infinitas. Imagine você estar em uma festa e ter que desperdiçar aquela mina porque a patroa está ao lado? O ideal seria estar solteiro disponível para o que der e vier. Na tentativa de querer ter todas as possibilidades, acabamos criando a arte do desapego. Com isso, acabamos deixando de estabelecer vínculos um tanto mais profundos.

Tememos esses vínculos porque aprendemos a não perder. Tudo tem que render lucros, prazeres e histórias para serem contadas. Por mais que todos nossos afetos um dia partirão, seja lá qual a forma. Desde por livre espontânea vontade até a forma mais bruta de perder alguém que é a morte. Com medo de um dia sofrer, acabamos optando por deixar todos livres e nos mantermos livres. Todo mundo em constante movimento. A direção não interessa. O importante é o estar no constante ir-e-vir.

Então a nossa vida acaba carecendo de um sentido que são dados por nossos afetos. Por mais decepções que eles possam a vir nos causar, também haverão alegrias. Por mais altos e baixos que ocorram por conta deles, uma vida totalmente linear algumas vezes perde a graça. Apegue-se à tua família, mesmo que ela faça certas cobranças pensando no que ela acha melhor para ti, mesmo que tu saibas o que é melhor para ti. Apegue-se aos teus amigos, apesar de todas as possíveis divergências. Apegue-se àquela paixão, que realmente valha a pena, e transforme-a em amor. Apegue-se, viva, chore, ria. Não é porque o final é triste que o filme não valeu a pena. Perca o medo também, nem sempre o final é triste.

Sim, algumas das idéias defendidas aqui são um reflexo de algumas leituras do Bauman. (:

Nenhum comentário:

Postar um comentário