sábado, 9 de janeiro de 2010

pegando o andar da fila

E, aí, meu, quantas minas tu pegou ontem?”Sinto uma ligeira incomodação ao ouvir a palavra pegar. Quem fala, nem se dá conta do que está falando. De uso corriqueiro e habitual, pegar é proferida o tempo inteiro.

O que ela esconde por trás? A idéia de que somos objetos para sermos pegados, usados e largados. Simples assim: me pega, me usa e me abusa. Ela encontra suporte nas raízes do machismo, em que a mulher nada mais é que um objeto a serviço do homem. Quem pega é o homem. Mulher não pega, mulher é pegada.

Algumas pessoas podem ter até uma certa facilidade de pegar e não se apegar. Porém, cedo ou tarde, uma hora acontece, essas pessoas vão se apegar. Apegar entra aqui como desenvolver algum tipo de afeto por outrem. Afeto este que não se desenvolve só com um mero pegar.

Parece que o pegar encontra ecos em outra frase muito utilizado também: A fila anda. Vem rolo, vai rolo e a fila anda. Não sei se alguém parou para pensar no significado dessa frase, mas ela dá a idéia de que somos uma máquina. Você escolhe uma opção, obtém a prestação de serviço, e voilá próximo da fila!

São palavras e frases que dizem muito da forma de relacionar-se na contemporaneidade. Tudo tem de ser rápido, com o máximo de eficácia (leia-se prazer), e de olho no próximo investimento. Ninguém está interessado em desenvolver algo mais forte, digno de ser chamado de amor. Tudo fica no plano da paixão.

Aí alguém levanta e grita: é, mas as avós de outrora tiveram de pagar um preço chamado de silencio muitas vezes para manter seus casamentos. Não defendo que isso seja bom, nem que a forma de se relacionar atual é ruim. Formas de existir, precisamos encontrar a nossa. Coloco fé nem em um extremo, nem em outro. Sempre tentando alcançar o meio termo – tarefa árdua.

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