segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Oxigênio, amigos, dinheiro e carinho

Querido Renato,

Estou te escrevendo porque sei que tu me compreendes bem, tanto quanto um analista, mas não cobra para tanto. Ultimamente tenho sentido tantas necessidades.

Ando precisando de oxigênio. Tô meio sufocada, sabe. Viver sufoca a gente. Dizem que a intensidade da tua vida é medida pela quantidade de vezes que te faltou o ar. A minha deve estar sendo bem intensa. Me acordo no meio da noite, com uma falta de ar. Vou ser asfixiada por alguns amores, mas acho que mais pelas dores e assemelhados. Talvez tudo seja uma puta besteira e eu seja uma típica rainha do drama. Mas vem cá, por ser drama, não tem fundamento?

Tô precisando de amigos também, Renato. Do tipo da nossa amizade, parceria mesmo. Seja pra ficar discutindo essa coisa louca que é viver, seja pra ir em qualquer bar beber, ou até mesmo pra ir vezenquando nas nossas dançantes noites. Com qualquer grupo de amigos, me sinto deslocada. As gurias tu sabes como andam: só sabem falar sobre roupas & grifes, e sobre a dificuldade de manter essas compras. Às vezes, falam sobre homens. E como tu bem, sabes, ando tão complexada que prefiro nem tocar nesses assuntos. Tem a galera lá do trabalho também, mas não me sinto confortável. Sou falha, e não perfeita. E aquilo, vira uma guerra fria, que socorro!

E dinheiro... Esse desgraçado que destrói tantas coisas. Destrói quando tu não o tem para poder construir. A gente vai sobrevivendo mês a mês. Quando dá, faz uns bicos para ter um pouquinho a mais no final do mês. Queria tanto dar uma ajeitada aqui em casa, decorar mais e melhor, comprar umas roupas novas e uns livros. Queria viajar também, tô precisando sair de mim mesma, me permitir cometer essas loucurazinhas que a gente só se permite se estiver em viagem. Dizem que dinheiro não traz felicidade, mas traz conforto. E isso é o que tô precisando agora. Às vezes, me permito uns luxozinhos básicos. Ontem mesmo tomei uma garrafa de Chardonnay, mas, por conta disso, nem almocei. Louca e insana, essa tua amiga.

Sem dinheiro, sem amor: totalmente fudida, cara. Não tem noção do quanto tô precisando de carinho. Sexo a gente faz, e faz muito bem. Quando quer, com quem quiser. O problema é quando a gente acorda no outro dia, e dá aquela vontade de ficar conversando sobre as coisas da vida, mas tu sabes como é. Não rola. Quase sempre me sinto meio carente, meio doente por um afago do tipo de mãe quando cuida da gente. E é difícil de encontrar uma mão que acaricia. Geralmente, elas vem curtas, rápidas e pesadas como um tapa.

Te disse né? Preciso de oxigênio, preciso ter amigos, preciso ter dinheiro, preciso de carinho. Me escreve que muito preciso das tuas palavras.

Sempre tua,

Maria Clara.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. e pensar que só de ouvir palavras doces o sentimento de carinho preenche a saudade e faz a gente se sentir acolhido. palavras bestas estas que na verdade não preenchem nada, só nos tornam mais vazios, já que quanto mais falamos, mais sabemos e quanto mais sabemos, menos parecemos sentir.
    sábio é o ignorante,que não sabe nada além de ser feliz.

    :) adorei a carta, wil!
    beijos
    Vitória

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