sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Vem de dentro, sai para fora

Chegou, cumprimentou e correu para o divã. Desatou a falar, com um desespero que lhe era habitual:

- Seguinte, acho que hoje é nossa última sessão. Decidi me mudar. Não sei para onde, até porque não tenho nenhum lugar para me ancorar, mas tenho pensando em São Paulo. Cidade mexe com a cabeça da gente. Deixa a gente de um jeito louco. Melhor, permite a gente ser insano sem ter problema algum com isso. Porquê de eu ter tomado essa decisão? Cansei, cansei dessa cidade. Tudo o que eu tinha para descobrir, eu já descobri. Eu quero viver de novo aquelas sensações de descobrir um mundo que se oferece ali, bem embaixo do meu nariz. Cansei de ir às mesmas festas, ver as mesmas pessoas e ter as mesmas sensações. Faz tempo que não chego em casa eufórica. Rindo e chocada, ao mesmo tempo, com os acontecimentos da festa. Não quero ficar eufórica, e achando tudo lindo e maravilho. Nunca tive essa pretensão, nem quero ter. Mas queria ficar com aquela sensação.

Como assim, não adianta eu fugir que todos esses fantasmas vão fugir comigo?! Grande merda, se for assim. Vou ir pra São Paulo, e depois quererei ir para New York, Paris. E de galho em galho, eu vou pular. Triste vai ser quando eu chegar à velhice, e me dar conta de que não terei me fixado em nenhum lugar. Em compensação, terei vivido intensamente, se é que assim posso dizer. Sim, é meu jeito de ser assim. Conquistar coisas não é problema para mim, difícil é manter. Custa-me um preço muito caro manter as coisas. Eu entendo que é preciso perder um pouco da liberdade e se apegar às coisas. Viver é isso. Ir fazendo concessões o tempo inteiro. Em nome dos sentimentos ir se sacrificando. Tem coisa mais louca que isso? Daqui um pouco eu vou esquecer de mim, por conta de um terceiro. Mas, o preço é alto. Para que mandar alguma coisa ao concerto, quando eu posso muito bem comprar um novo?

É, infelizmente, não poderei nascer novamente, mas quem sabe eu possa me reinventar? Tava pensando em cortar o cabelo. Comprar umas roupas novas. Dar um alô pro Guilherme, e parar de escapar como uma ex-presidiária dele. Quem sabe pinta um rolo, e volta o colorido. Não sei. Talvez eu possa fazer um curso de fotografia, ou de culinária. Eu deveria mesmo é cuidar desse corpo, mas tenho horror à ideia de ir à academia. Talvez isso seja outra coisa que deva mudar.

Sim, sim, nos vemos na próxima sessão – e sorriu.

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