quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Ela e as outras.

Ela. Portadora de um grande senso de humor, inteligente, simpática, sociável e digna de se ter uma amizade. Um porém: encalhada. Sua vida só não é uma piada porque só seria cômica, se não fosse trágica. “Não quero me amarrar”, “Só quero me dedicar aos estudos”e “Adoro minhas amigas” sempre surgem em sua fala na vida cotidiana. Três fases que dizem muito: seu horror a compromissos, a consciência de que não precisa do príncipe encantado para se divertir, além de seus vários projetos na vida profissional. Se ela não pensa em compromissos, sua mãe não vê a hora em que a filha se aquiete, crie juízo e seja igual a todas as outras.

As outras. Aquelas que, ao escolherem o amor e a dedicação, tiveram como destino pilotar fogões, planejando a rotina da casa dia por dia, criando filho por filho. E, para o kit ficar completo, aguentando aquele, sim, aquele a quem elas juraram compromisso até a hora da morte.

Ela. Numa corrida desesperada atrás de si, acabou se descobrindo. Sua personalidade, suas características, suas qualidades e seus defeitos. Conhecer quem ela era garantiu-lhe saber até onde e o quão fundo poderia pisar. Então, com medo de se machucar, entregou-se totalmente raras vezes. Mal conhecia e já pulava fora, tamanho o medo de decepções futuras. Ela não sabia que a vida era isso mesmo, e só vence quem não se deixa abalar por elas. Sua vida tinha um colorido especial, mas ela não sabia do colorido que poderia ter. O tom azul céu às vezes aparecia. Era necessário mais rosa, mais vermelho. Mas o medo existia. Ela nem sabia, não tinha ciência da razão pela qual não havia se entregue ao amor ainda.

As outras queria sua independência e sua autonomia. Ela, a solteirona, devassa, pecadora... Ela que só queria saber de curtir a vida. Simplesmente viver, sem ligar para conseqüências. Conseqüências que as outras amarguravam até hoje. Em nome do amor pelo amado e pelos filhos, as outras se esqueceram de lembrar-se um pouco de si. Entretanto, sua vida tem outro colorido. O do afeto, preenchido por outrens, seja com amor, seja com dor.

Ela, aquela, enquanto isso, devido ao tempo que tem disponível, preenche com o que a diverte: arte, festas, amigas e uns pretendentes de vez em quando. Ela que deitava a cabeça e sentia que não era de ninguém, além de si mesma. E sentia um vazio e morria de inveja das outras, deitadas e acompanhadas. Ela que desfilava, jogando na cara sua total liberdade. Ela que não sabia que havia uma parte em si que só desejava ser amada.

Ela e as outras. Cada uma vivendo em seu mundo. Cada uma com suas escolhas. Cada uma pagando seu preço. Cada uma pagando com a sua moeda.

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a quem interessar possa, habilitei os comentários para quem tem conta google. o comentário de vocês me interessa muito sim. tá?

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Gostei muito do post. Enxerguei uma pancada de pessoas conhecidas ao ler cada linha.

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  3. Que texto legal! É EXATAMENTE assim: uma saudade eterna de um caminho que não foi o escolhido. Nosso desafio é justamente equilibrar o que somos, o que fomos, o que seremos e o que poderíamos ter sido. Uma bagunça, né? rs Tarefa árdua mas que proporciona muito conhecimento. Parabéns pela sua visão sensível. ;-)

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